Viver é caminhar em direção à autossuficiência, pois a cada novo passo nos tornamos independentes, conscientes de quem realmente somos e capazes de suprir todas as nossas necessidades, além de poder auxiliar e apoiar aqueles que ainda não iniciaram essa caminhada.
No entanto, a autossuficiência pode nos levar a cair em uma inevitável armadilha. Assim como Narciso caiu ao olhar seu reflexo no lago, podemos nos encontrar com a nossa excelência e deixar de perceber que somos seres humanos e, dessa forma, suscetíveis a falhas e imperfeições.
Esse sentimento de perfeição pode nos causar uma ilusão de que somos os melhores (melhor aluno, melhor filho, melhor trabalhador, melhor marido), os mais competentes, excelentes em tudo o que fazemos e, acima de tudo, que não precisamos de ninguém.
Porém, quem é perfeito e não precisa de ninguém? Quem não precisa de um ouvido amigo que vai escutar e até mesmo puxar as orelhas? Quem não tem momentos de tristeza e desânimo? Quem não precisou de pessoas para vir ao mundo e que também não eram perfeitas?
Essa ideia de autossuficiência provoca o esquecimento de que viemos de outros seres humanos que devem ser honrados e respeitados. Com o tempo, com o crescimento e a independência financeira, emocional e afetiva, deixamos no passado a influência dos primeiros amigos, dos companheiros de brincadeiras na escola, dos professores, de todas as pessoas que passaram pela nossa vida e deixaram sua marca, mesmo sem permanecer.
Esse sentimento dificulta a vivência da verdadeira expansão da realidade e uma entrega de coração ao Divino e às pessoas que nos cercam, que aceitemos a nossa própria verdade composta por dualidades. Além disso, impede de estendermos a mão para pedir ajuda ou, até mesmo, para ajudar.
Claro que não podemos retroceder ao tempo em que éramos dependentes, que precisávamos dos nossos pais para nos prover alimentos e aconchego, pois esse caminho não tem volta, e ainda bem.
Mas devemos sim evitar um outro caminho, aquele que nos leva à prisão a qual podemos chegar se acreditarmos que não precisamos de ninguém e de que não temos defeitos. Essa prisão, comandada pelo Ego, é cercada por inveja, ciúmes, vingança e outros sentimentos ruins que podem deturpar a nossa visão da realidade.
Podemos ser autossuficientes sem deixarmos de perceber alternativas mais coletivas, comunitárias e altruístas para organizar a vida. É essencial pensarmos em nossa evolução juntamente com a evolução do que nos cerca, de toda comunidade. Afinal, ela só acontece quando nos sentimos em comunhão com o Universo.
Compreendemos que, quando nos preocupamos apenas com a nossa vida, caímos no espiral do sofrimento e deixamos de perceber a verdadeira Compaixão e Humanidade. Ao nos afastarmos o Ego, vivenciamos toda a Abundância da Fonte Divina.
A autossuficiência é um caminho inevitável para a evolução, mas ela pode ser percorrida de mãos dadas com os entes mais queridos, com um sentimento genuíno de humildade e plenitude, e com o reconhecimento de nossa verdadeira humanidade e vulnerabilidade.
A nossa percepção de que somos inseparáveis do Universo permite que aceitemos nossa verdade interna, composta por Luz, mas também pela Sombra. Em alguns momentos, sentiremos raiva, medo, temor, mas também somos feitos de felicidade, risos, compaixão e generosidade. A perfeição só existe pelo fato de que somos Humanos, perfeitos em nossa unicidade.
Quando assumimos nossa vulnerabilidade, nos entregamos de corpo e Alma ao Divino, aproveitando cada momento em que somos nós, cada experiência que temos com nossa própria natureza. Essa é a libertação que todos buscam: sentir-se único e perceber como nos apresentamos realmente ao mundo, sem termos a necessidade de mudar nada.
Aceitar-se é sentir-se livre para assumir sua Verdade Interna, é poder abrir-se para todas as possibilidades sem julgamentos, é experimentar o fato de ser você mesmo, é agradecer pela vida e por tudo que você é.
Diante disso, qual é o seu olhar para com o mundo? Será que nos vemos como adultos que olham de cima uma criança ou como a criança que olha de baixo um adulto? Será que nos damos conta de nosso verdadeiro papel no Universo? Será que nossa autossuficiência não nos cegou e impossibilitou de olhar ao nosso redor e dentro de nós mesmos? Você está se entregando de corpo e Alma ao Universo?
Qual é a sua Verdade Interna?
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