A vingança é um tema bastante recorrente em histórias. Possivelmente, a mais famosa delas é “O Conde de Monte Cristo”, um romance escrito em 1884 pelo escritor francês Alexandre Dumas. Narra a trajetória de um homem que, depois de sofrer anos preso injustamente, volta para se vingar de seu algoz. Você já parou para pensar de onde vem esse desejo que uma pessoa pode ter de querer devolver na mesma moeda algo de ruim que lhe fizeram? Continue acompanhando e saiba mais sobre a neurociência da vingança e esse desejo que muitos têm de fazerem justiça.

A neurociência por trás do desejo de vingança

Há alguns anos, vimos os norte-americanos comemorarem a morte do terrorista Osama Bin Laden. Apesar de esse homem ter uma reputação péssima em todo o mundo, principalmente por ter sido o cérebro por trás do ataque terrorista às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, a comemoração pela sua morte levanta a seguinte questão: por que a celebração? Trata-se simplesmente de um desejo de justiça ou o simples prazer da vingança?

Lembrando que a intenção aqui não é realizar qualquer tipo de julgamento sobre a reação das pessoas e sim entender como o cérebro humano reage a esse tipo de situação. Estudos realizados através da análise de imagens captadas por ressonância magnética revelaram que pensar em vingança ativa o centro de recompensa do cérebro, assim como alimentos doces e drogas. Contudo, isso vale apenas quando se tem a ideia, porque, depois que o ato se concretiza, a sensação de satisfação não costuma vir.

Michael McCullough, um renomado psicólogo e autor norte americano, é um estudioso desse assunto. Tanto que, em 2008, lançou um livro intitulado Beyond Revenge: The Evolution of the Forgiveness Instinct (em tradução livre “Além da vingança: a evolução do instinto de perdão”). Para ele, a vingança é fruto de um mecanismo que tem como objetivo evitar danos. São comportamentos projetados para impedir que indivíduos que lhe fizeram algum mal voltem a agir da mesma maneira.

Conclusões obtidas em um experimento sobre a neurociência da vingança

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, realizou um estudo para entender melhor os mecanismos cerebrais gerados através da raiva e do desejo de punir os responsáveis ​​por nos colocar nesse estado. Um dos experimentos feitos consistia em períodos alternados de provocação, durante os quais os participantes recebiam choques elétricos de outro indivíduo, e períodos durante os quais eles tinham a oportunidade de revidar a ação.

O chamado Paradigma da Agressão de Taylor não ajudou muito a distinguir os sentimentos de raiva do desejo de vingança experimentados pelos participantes. Assim, os pesquisadores resolveram adotar outra metodologia, que fosse mais eficaz e menos dolorosa para os envolvidos. Assim, a Dra. Olga Klimecki-Lenz, coautora do estudo, desenvolveu o que ela chamou de “jogo das desigualdades”, projetado para provocar um sentimento de injustiça e raiva nos participantes em primeiro lugar e, em seguida, oferecer-lhes uma oportunidade de vingança.

PSC

Um grupo com 25 homens, com idade média de 26 anos, participou do experimento. O jogo se passa em três estágios, durante os quais um participante é colocado em um scanner de ressonância magnética e interage com outros dois indivíduos, fazendo negociações financeiras, mas olhando apenas para fotografias deles. O que ele não sabe é que o comportamento de seus oponentes é pré-programado. Um dos dois é justo e oferece a ele oportunidades positivas para as duas partes, enquanto o outro é o oposto.

Durante a primeira fase do jogo, o participante escolhe como deseja distribuir o dinheiro. Com a maioria dos participantes, a quantidade foi distribuída igualmente entre os outros dois jogadores. Durante a segunda etapa, o jogador injusto começa a trapacear e fazer provocações. Nesse ponto, é perguntado ao participante como ele classifica seus sentimentos de raiva em uma escala de 0 a 10. Esses dados são usados ​​para estabelecer uma correlação entre o nível de raiva autodeclarada e a densidade de atividade no lobo superior temporal e na amígdala (que desempenha um papel no processamento de emoções).

Análise dos resultados

Na fase final, o participante se torna o mestre do jogo e pode decidir se irá ou não se vingar e penalizar aqueles que consideraram injustos. A maior parte do grupo optou por se vingar por conta das injustiças que sofreram. Mas, surpreendentemente, 11 indivíduos abriram mão dessa possibilidade. Os dados da ressonância magnética mostraram que, quando comparados aos outros participantes, eles tiveram maior ativação em uma área específica do cérebro: o córtex pré-frontal dorsolateral, que desempenha um papel importante na regulação das emoções.

Os cientistas notaram que, quanto mais ativa essa área ficava durante a segunda fase do jogo, a da provocação, menor era a chance de os participantes se vingarem do jogador injusto. Por outro lado, quanto menos ativa a área se mostrava, maior era a probabilidade de vingança. Assim, concluiu-se que o córtex pré-frontal dorsolateral tem um papel importante em relação à escolha pelo comportamento vingativo.

Segundo os autores do estudo, os resultados dessa pesquisa fornecem novas ideias sobre os mecanismos funcionais envolvidos na regulação da raiva e na inibição do desejo de vingança. Assim, acreditam que essas informações poderão abrir novos caminhos para o tratamento do controle da raiva e do comportamento agressivo.

Será que a vingança compensa?

Existe uma citação muito sábia de Marco Aurélio que diz que a melhor vingança é não ser como seu inimigo. Através de poucas palavras ele expressou uma grande verdade, a de que se vingar não vale a pena, porque significa se igualar a uma pessoa que lhe fez mal e agiu de um modo que você não considera correto.

Como vimos ao longo do artigo, o cérebro recebe uma atitude prejudicial vinda de um terceiro como uma injustiça. Então, muitas vezes, é natural ter o desejo de reequilibrar a balança, devolvendo o malfeito. Contudo, fazer isso não irá apagar tudo o que aconteceu e poderá gerar ainda mais sofrimento.

Desse modo, o melhor a fazer é lidar com seus próprios sentimentos, mantendo sempre a consciência tranquila. Desejar o mal a quem lhe fez mal não fará com que o bem venha até você, pelo contrário. Faça o bem, deseje o bem e isso voltará para sua vida.

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