Sentir… Um menino jogando bola, por acidente, pisa em falso e torce o tornozelo. Alguns colegas correm para ajudá-lo, e o pai se aproxima e diz: “Engole o choro”. Outro menino, longe dali, para acompanhar os amigos e mostrar coragem, precisa pular de uma árvore. As mãos e os lábios estão trêmulos, ele sente um calafrio no estômago. Ele precisa pular. Todos pularam. Ele pula, mesmo com muito medo. 

Não aceita por um grupo de crianças do condomínio, uma linda garotinha vai ao seu limite e começa a agredir fisicamente as outras crianças. Até que alguém a repreende dizendo como é feio uma menina sentir raiva. Ela tenta se aquietar, chora e depois se acalma. Talvez ela não faça mais isso. Lidar com nossas emoções é um desafio desde a infância. Faz parte do nosso aprendizado de vida. Somos arquitetos de nós mesmos; nos construímos desde sempre, e essa construção envolve entender nossas emoções, parte indissolúvel de quem nós somos. As emoções aparecem em nós de maneira absolutamente orgânica, natural. Elas acionam um ciclo que tem sete etapas: 

1. Estímulo 

Também podemos chamar de “ativadores”. É simplesmente o mundo. Tudo no mundo pode ser um estímulo emocional, pode ser algo que desperte em nós mais emoções. Desde um bonito pôr do sol que nos coloca diante da beleza da vida e nos traz felicidade e aconchego, até o trânsito caótico, que gera raiva e impaciência. Um filme que nos faz chorar; ou o barulho da obra que nos deixa irritados. Mas existem também estímulos comportamentais. 

Alguns comportamentos de pessoas que convivem ou não conosco podem acionar grandes cargas emocionais. Muitas vezes é simples encontrar os estímulos no mundo, mas difícil mesmo é entender os estímulos que partem dos próprios comportamentos. Em todo caso, são esses estímulos os responsáveis por acionar, em nós, nosso rico espectro emocional. 

2. Emoção

Em seguida ao estímulo, a emoção nasce. Ela surge se manifestando no nosso corpo. Algumas vezes, de forma sutil, como um leve suor nas mãos. Outras, de uma forma mais vultosa, como um palpitar mais forte do coração ou um tremor pelo corpo todo. 

O nascer das emoções nos faz sentir a verdadeira experiência da vida. É a vida pulsando dentro de todos nós. Há emoções que tentamos evitar, como o medo, e há emoções que buscamos encontrar, como a paixão. De uma forma ou de outra, estamos sujeitos a todas elas; e todas nos ajudam a viver com intensidade e verdade. 

3. Expressão 

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É muito difícil esconder dos outros uma emoção. Isto porque o ciclo das emoções, seguindo seu percurso, nos leva a um expressar, isto é, a comunicar ao mundo o que estamos sentindo. A expressão das emoções é muitas vezes impulsiva; tanto, que algumas pessoas passam toda a vida sem conseguir controlar a expressão de suas emoções. 

Diante de uma forte emoção, rimos, choramos, nossa expressão facial se modifica bruscamente. Nossos olhos e sobrancelhas demonstram nossa surpresa ou descontentamento. A musculatura da nossa face é muito suscetível às emoções. O pesquisador Paul Ekman desenvolveu um longo estudo sobre como expressamos nossas emoções e entendeu que existe um padrão de como nosso rosto reage.

4. Comportamento

Além de expressar as nossas emoções por meio do nosso corpo, as emoções também provocam ações/reações e moldam nosso comportamento. Essas ações podem se dar por um impulso, como quando alguém joga ao chão algo que estava nas mãos, como um comportamento derivado da raiva. 

Mas também pode ser um comportamento aprendido em longo prazo, como quando a tristeza se instala e o cotidiano passa a ser reflexo dessa tristeza. Todos os dias. O comportamento é uma evidência de como as emoções nos afetam e constituem a nossa qualidade de vida. Em longo prazo, os efeitos das emoções em nosso comportamento devem ser observados com cuidado, pois eles podem ser nocivos e gerar complicações.

5. Consequência 

O fato do adoecimento emocional é uma dessas muitas consequências das emoções — ou da nossa inabilidade emocional. As consequências também estão ligadas à expressão e aos comportamentos advindos das emoções. Isso é especialmente importante, porque percebemos que o ciclo emocional não acaba na emoção em si, mas está para além dela. 

Tomamos consciência de que nossas emoções exercem impacto no mundo, em nós e nos outros. Muitas pessoas são afetadas com a dificuldade de lidar com as próprias emoções e com as suas consequências; sobretudo, as pessoas mais próximas, como família e amigos. É verdade, por exemplo, que muitos relacionamentos se desfazem pela dificuldade em encontrar um ponto de equilíbrio.

6. Significado

É preciso muito autoconhecimento para sermos capazes de gerir nossas emoções em pontos como a expressão e o comportamento. Em geral, só tomamos consciência de que exageramos quando surgem as consequências. A fase dos significados é o momento em que o pensamento entra em cena, quando somos capazes de refletir sobre o que está acontecendo conosco. 

Com a diminuição da intensidade da emoção, fica mais claro o que aconteceu em nosso corpo, a forma como expressamos e reagimos, também as consequências dos nossos atos. Esse é o momento de darmos nome a nossas emoções e sentimentos e de entendermos seu ciclo e funcionamento. Não raro, buscamos ajuda nessa fase; há muitos profissionais que nos ajudam nessa tomada de consciência. Buscar um profissional para isso não deve ser motivo de vergonha, mas de entusiasmo. 

7. Aprendizado 

Aprender com nossas emoções é uma tarefa de evolução. Aprender pode significar uma mudança de comportamento ou apenas um mapeamento do próprio self. Isso quer dizer que, conhecendo como funciona nosso ciclo emocional, tomamos a decisão de fazer ou não alguma coisa com segurança. 

Particularmente não gosto dos discursos que querem nos fazer evitar as emoções. Aprender com elas não se trata de evitá-las a todo custo, mas, sim, de saber o que elas querem nos ensinar. 

Pergunte à tristeza: “O que você veio me ensinar?” Ouça a resposta, viva seu momento de tristeza e deixe que ela passe. Este livro que lhe apresento com muito entusiasmo é fruto de muitos anos de trabalho com minha própria inteligência emocional e, principalmente, com o estudo de mais de 60 obras diferentes, publicadas em todo o mundo, cujo tema central, ou secundário, são as emoções humanas. Há uma infinidade de áreas do conhecimento interessadas nas emoções humanas: Neurociência, Psicologia, Sociologia, Biologia, 

Administração de Empresas, Economia e também o Coaching. Cada uma oferece uma contribuição importante, seja por meio de pesquisas acadêmicas, seja por meio da observação e da experiência profissional. Talvez você não saiba, mas construí uma matriz de pensamento em sete níveis. Esses níveis têm origem no estudo de Robert Dilts sobre os níveis neurológicos, que eu reconstruí, criando a Teoria dos Sete Níveis do Processo Evolutivo, apresentados logo mais. 

Dentro dos sete níveis quero dialogar com você sobre como as emoções nos afetam, como elas fazem de nós a pessoa que nós somos e como podemos atuar sobre elas para nos tornarmos a pessoa que desejamos ser ou o mais próximo disso possível. Inteligência emocional é uma habilidade de autogerenciamento, de construção de si mesmo. Apesar de voltada para si, ela não é, de maneira alguma, uma atitude individualista e narcisista, afinal todos os nossos relacionamentos interpessoais são afetados pelas nossas emoções e sentimentos. 

Conectar cada nível do processo evolutivo com teorias e reflexões sobre a inteligência emocional ampliou consideravelmente a minha percepção do tema e tenho certeza de que também será assim com você. É isto que eu busco como estudioso: sempre ampliar, sempre alargar as fronteiras, criar conexões, gerar multi e transdisciplinaridade.