Estamos, neste livro, no que se refere à religião, trabalhando cada parte inspirados pela metodologia que compõe as partes da missa. E, na missa, a Eucaristia é o momento maior, o ápice. Assim sendo, tudo que veio antes foi preparação. O que vem depois é missão. Portanto, Eucaristia é Páscoa, passagem.  

Eucaristia é Jesus, realmente presente! É a missão do Cristo, que doou seu corpo e sangue por nós. Para entender e viver a verdadeira Eucaristia, é preciso conhecer e reconhecer Jesus Cristo. O Cristo completo, o Deus e o homem.  

Pela tradição, Jesus é anunciado no dia 25 de março (Festa da Anunciação), exatamente 9 meses antes do Natal. De acordo com o texto de Lucas (1,26), a Anunciação ocorreu no sexto mês da gravidez de Isabel, a prima de Maria e mãe de João Batista. Portanto, a partir dessa data, Deus se faz pessoa e caminha com o seu povo.  

Festa da Natividade, dia 25 de dezembro do ano zero, em Belém da Galileia, nasce uma criança. Os pastores disseram uns aos outros: “Vamos já a Belém, para ver a realização desta palavra que o Senhor nos deu a conhecer. Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José e o recém nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,15b-16).

No oitavo dia, quando o menino devia ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo Anjo antes de ser concebido no ventre da mãe. E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (Lc 2,23).

“Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando completou doze anos, eles foram para a festa como de costume. Terminados os dias da festa, enquanto eles voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem” (Lc 2,41-43).  

Essa é a infância e adolescência de Jesus. Não se sabe muita coisa sobre esse período da vida do Mestre, mas apenas o seu nascimento já foi capaz de mudar todo o mundo. Seu sobrenome aqui é dado como

PSC

Nazaré — Jesus de Nazaré — por ter vivido na cidade de Nazaré. Poderia  ter sido conhecido como Jesus de Belém, pois ele nasceu em Belém, segundo as Escrituras. Porém a sua família é de Nazaré, na região da Galileia, chamada assim por causa do seu lago, conhecido como Mar da Galileia; aí se dá toda a vida terrena de Jesus. Podemos fazer referência também ao Jesus Histórico, isto é, o filho de Deus que fez história no mundo terreno e como personagem da história da humanidade, para além da sua perspectiva religiosa, como centro de um saber religioso.  

Jesus de Belém, Jesus de Nazaré, Jesus Histórico, não importa a referência que se dê, o que importa é reconhecê-lo como pessoa de Deus fazendo caminhada no meio do povo. Deus quis habitar na história da humanidade; para isso, quis viver em tudo a condição humana, menos o pecado. Fez-se no ventre de uma mulher, teve um pai que o amparasse e, assim, numa família, nasceu esse Deus, que aqui podemos chamá-lo de Deus Menino. É Deus que, em tudo, vive a condição humana, menos o pecado .  

Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando se igual ao ser humano. Aparecendo como qualquer homem, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte — e morte de cruz (Fl 2,6-8).  

Jesus teve um endereço, família, amigos, trabalho, como toda pessoa de seu tempo. Era divino, mas também humano; e como humano, teve muitas alegrias, mas também tristezas. Uma pessoa que desde muito cedo soube o que é amor. O ventre de sua mãe foi um aconchego de amor; o colo de seus pais foi outro grande e significativo berço de amor. A comunidade onde cresceu foi um canto de amor. Nas sinagogas, sempre muito atento às tradições religiosas com seus pais, pôde compreender muito sobre o amor, talvez, nem tanto pelo que ouvia dos sacerdotes, mas pelo que observava.  

Quanto à vida pública (ou oficial) de Jesus, podemos acompanhà-la por meio dos Evangelhos. O homem que caminhava pelo mundo espalhando a Boa Nova, cuja mensagem rompeu os milênios e se fortalece com seu povo, o povo que o segue e o imita, nós, os cristãos.  

Certo dia, a multidão se comprimia ao redor de Jesus para ouvir a Palavra de Deus (Lc 5,1). Jesus disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens” (Lc 5,10b). Ele, porém se retirava para lugares desertos e orava (Lc 5,16). Jesus, porém, percebeu os seus raciocínios e disse-lhe: “Por que raciocinais em vossos corações? Que é mais fácil dizer: ‘Teus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda?” (Lc 5,22-23).  

Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado. Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também”. Ele contou lhes, também, uma parábola: “Pode acaso um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco” (Lc 6,36-39).  

A história de Jesus, o nazareno, é modelo para todos nós. Não há amor maior que o do nosso Pai, não há capacidade de perdoar maior que a dele. Quando no Coaching pedimos que o coach suspenda todo tipo de julgamento, estamos tentando imitar Jesus Cristo. Quando pedimos que as pessoas sejam ouvidas na essência, também estamos tentando imitar Jesus. Esse é o único caminho possível para um mundo melhor.  

Esse homem tornou-se o nome mais falado, o mais citado e pesquisado em toda a humanidade. Não dá para negar a sua existência. Aqueles que não o conhecem, talvez, se despertem para conhecê-lo; aqueles que já o conhecem, com certeza, teriam muito a acrescentar a esse relato.  

Tenhamos sempre a sensibilidade de perceber que Jesus é extraordinário e provocador da libertação das pessoas, promotor do crescimento, da dignificação do ser humano em todas as suas dimensões. Convido você a ler, na sua Bíblia, todo o Evangelho escrito por Lucas. Ali, de uma forma didática, você terá uma linda apresentação do Jesus de Nazaré.  

Lucas parte da realidade da Galileia em direção a Jerusalém. Jerusalém é considerada o centro do mundo, o mundo judaico. Jesus, em Jerusalém significa o novo transformando o centro do mundo. E daí, Jesus reenvia os seus discípulos para voltarem para a Galileia, pois lá eles o reconhecerão.  Caso faça sentido para você, coloque-se dentro do texto, nas perguntas dos discípulos, nas explicações de Jesus, no processo de cura que vai se dando ao longo do caminho. Tenho certeza de que vai amar fazer essa experiência.  

E o Jesus Cristo?  

Jesus Cristo, ou talvez melhor, o Cristo da Fé é aquele que não se faz fisicamente no nosso meio, mas se faz espiritualmente dentro das pessoas e na comunidade de fé — “Pois onde dois ou três estiverem

reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20) —, assim como as primeiras testemunhas que foram ao túmulo em busca de um corpo e encontraram a pedra rolada relembraram-se das palavras e ações do Jesus de Nazaré e saíram para o mundo anunciando um Jesus vivo, e não morto. Jesus Cristo é aquele que se faz vivo a partir de nossa fé.  

Esta situação é o que se chama “querigma”. Querigma é o cerne da mensagem cristã. O primeiro anúncio. A atitude de reconhecer a existência de Jesus de Nazaré, com tudo o que ele viveu e ensinou, e transmitir isso ao mundo como mensagem transformadora para o Reino de Deus. Portanto, é um anúncio que tira as pessoas do comodismo, faz com que experimentem a fé em Deus e coloquem tudo isso em prática nos diferentes contextos em que se encontram.  

Cristãos são todos os que testemunham Jesus Cristo, vivem a fé a partir da Ressurreição de Jesus. E, como o convidei a ler o Evangelho escrito por Lucas, convido-o agora a ler, na sua Bíblia, o livro dos Atos dos Apóstolos. Esse livro é continuidade do Evangelho escrito por Lucas. Nele, se mostra a experiência dos discípulos de Jesus, a experiência a partir da Ressurreição. O itinerário é de Jerusalém para Roma, pois Roma é agora o centro do mundo. E de Roma, o testemunho se expande   para as periferias do mundo (a Galileia de agora), as demais regiões da Europa: América, Ásia, África e Austrália.  

E continuamos nesta missão de fazer cada vez mais expandida, compreendida e vivida a Boa Nova do Cristo Jesus.  

Assim sendo, a Eucaristia é Sacramento. Sinal instituído pelo homem histórico nos antecipando o Cristo, a luz. É a transubstanciação do vinho para o sangue, do pão para o corpo de Cristo e, neste sentido, de todas as nossas atitudes de sombras em atitudes de luzes. Portanto, libertação. É o alimento do cristão, o reavivamento do banquete de Jesus e de seus discípulos. Assim, é força que nos sustenta na missão.  

Comungar da Eucaristia é mais do que simplesmente ir à missa, vivenciar um rito, entrar na fila e pegar um pãozinho. É preciso ter a consciência de toda uma vida em processo de evolução, de conversão e — por que não? — de empoderamento. Participar da comunhão eucarística sem a consciência de seus significados mais profundos é um ato vazio e profanador.  

A hóstia como matéria feita de farinha e água é ruim, sem gosto, sem tempero, nutrientes. Mas participar da hóstia a partir de todo um processo de crescimento e conversão que se dá ao longo da vida, no dia a dia de forma concreta, nos leva a outro nível de espiritualização. Isto, porque o gosto, o tempero e os nutrientes estão em mim, e não no pãozinho.

E, uma vez que comungo, estou consumando tudo isto no corpo e no sangue de Jesus, pois Jesus não foi um ser sem gosto, sem tempero, sem nutrientes, muito pelo contrário. Pudemos ver isso na história do Jesus de Nazaré e do Jesus Cristo.  

É preciso nutrir a nós mesmos e ao mundo com compaixão. Como? Arriscando-se, doando-se e comprometendo-se com o próximo. Quem comunga de forma consciente caminha nessa direção, pois busca o amadurecimento da fé. A verdadeira alegria, felicidade de vida, consiste em servir, como Cristo serviu aos seus. Assim como o coach serve ao seu coachee, no sentido de que se envolve verdadeiramente com os seus objetivos.  

A Eucaristia é o ponto de congruência de todas as pessoas que se esforçam para o bem, que buscam a verdade e se colocam a serviço do Reino de Deus. Assim deixa claro Paulo Apóstolo quando compara a Eucaristia a um corpo. O corpo, embora tenha muitos membros, de diferentes tamanhos e funções, tem a consciência de corpo, isto é, de unidade. E, nesta unidade, reconhece as diferenças como riqueza para bem desempenhar as diferentes missões (1 Cor 12,12-31).  

O Papa Francisco tem se tornado um exemplo de cristão para o mundo. O santo padre se mostra comprometido com o próximo, tal qual o bom samaritano. Em sua homilia do dia 06 de julho de 2018, no ato dos seus cinco anos de pontificado, dirige um agradecimento aos socorristas de Lampedusa3 com estas palavras: “No quinto ano da minha visita a Lampedusa, expresso a minha gratidão aos socorristas por encarnarem hoje a parábola do Bom Samaritano que parou para salvar a vida daquele pobre homem espancado pelos ladrões, sem lhe perguntar pela sua proveniência, pelos motivos da sua viagem ou pelos seus documentos: simplesmente decidiu cuidar dele e salvar a sua vida.”  

Para se chegar a esse estágio de consciência não existe outro caminho senão o do autoconhecimento, caminho pode ser percorrido a partir de uma boa catequese, do envolvimento nos movimentos e pastorais, da imitação dos passos de Jesus.  

 

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