Toda cultura se organiza em torno de práticas rituais ou ritualizadas. Erroneamente essa palavra está quase sempre associada à religião, mas tudo que se relaciona a uma estrutura, uma organização, um conjunto simbólico e um hábito, a uma perpetuação no tempo, pode ser considerado ritualizado.

Todos os dias, antes de sair de casa — todos os dias! —, dar um beijo na testa do filho, um beijo na esposa, um beijo na santa que está na estante, fazer o sinal da cruz e pedir proteção. Essa estrutura, seus símbolos e sua recorrência torna essa “saída de casa” ritualizada, em oposição a quem não tem uma forma específica de se despedir.

Cerimônias são sempre ritualizadas. Desde as religiosas, como a missa, até uma simples comemoração de aniversário: todas têm seus símbolos, seus momentos específicos, regras implícitas de comportamento, vestuário, de como devemos nos relacionar em cada um desses lugares. Elas estruturam também as relações com o divino, a partir de um dado contexto religioso. Importante dizer é que os rituais são carregados de significados para aqueles que os praticam, aliás é o significado de cada símbolo, de cada gesto, de cada organização que faz com que os rituais sejam aceitos e compartilhados por uma coletividade.

Dentro da concepção cristã, há dois rituais (sacramentos) bem conhecidos: Batismo e a Eucaristia. O Batismo consiste em derramar água benta na   cabeça da pessoa que será iniciada na religião. Esse sacramento lembra o batismo de Jesus administrado por João Batista. Em outras tradições, o ritual do Batismo é feito por imersão total.

A Eucaristia (ou Sagrada Comunhão) é o principal rito dentro da ritualística católica e também de outras denominações cristãs; o pão e o vinho são consagrados e oferecidos aos fiéis, em memória ao gesto de Jesus na Última Ceia. Outros rituais, celebrados em períodos de graça ou bênção, incluem o Crisma, o Casamento, a Ordenação para o sacerdócio, a Confissão e a Unção dos enfermos.

Os rituais não são apenas importantes, eles são partes da nossa vida. Eles abrem e fecham ciclos, estão presentes nas comemorações familiares e cívicas, na nossa rotina como um todo. A natureza também é ritualística, o cosmo, com tudo o que nele existe: galáxias, estrelas, sistemas diversos formam grandes rituais. O ano com suas estações, verão, outono, inverno e primavera, constitui um magnífico ritual. Dentro do ano, encontramos

diversos outros comportamentos: das águas, das florestas e dos animais. Cada comportamento pode ser entendido a partir de rituais. E o ser humano, este também se entende e se rege a partir de ritos. Pelos rituais celebramos a compreensão de que uma dada natureza mudou, transformou, evoluiu. E o ser humano, a partir de suas pesquisas, estudos e constatações, estrutura um tipo de rito e dá a ele a solenidade que melhor estimule à participação e à compreensão de mais pessoas, favorecendo o destaque que se quer dar a essa ou aquela situação, assim vão nascendo as diversas cerimônias cívicas, acadêmicas e de outros campos.

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Muitos ritos oriundos da religiosidade foram, ao longo do tempo, assumidos pela cultura. Visitando museus, exposições de artes, indo ao teatro ou mesmo acompanhando filmes, novelas, enfim, em todo tipo de manifestação cultural, percebe-se a presença de um ritual. E, na raiz de cada rito, está presente a religiosidade. E assim como os ritos da   religiosidade se encaminham para a cultura, também se transportam para específicas áreas da sociedade, como esporte e política.  

Na religião, o rito favorece a boa e correta celebração, com o devido destaque a cada parte de acordo com a sua importância. Busca-se centralizar o sagrado para o fiel cristão, que se percebe tocado na sua essência de vida, levado por toda a cerimônia, estendida à vida prática do dia a dia.  

Como já mostrado antes, os rituais do Batismo, da Eucaristia e da Crisma favorecem a compreensão do ser humano como sustentado no alicerce que é Jesus Cristo. O ritual da Reconciliação, Unção, Matrimônio e Ordenação favorecem a transversalidade da comunhão com o todo, sempre no sentido de reconhecer o ser humano dentro de um processo celebrativo na sua dimensão terrena e conseguir voltar-se, ao mesmo tempo, para a celebração numa dimensão maior, que é a busca da divindade. Em síntese, tudo decorre da compreensão da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.  

 

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