Entendamos a religião como o espaço da boa acolhida; a acolhida do sagrado onde há as pessoas que se reúnem para a manifestação de Deus. As pessoas, nós as chamamos de fiéis, que vêm de diferentes realidades, dramas, alegrias, pedidos, agradecimentos, louvores; buscam encontrar, sem exceção, acolhida nas religiões, no nosso caso, na religião cristã.

Na religião cristã encontramos a Palavra de Deus, que é o Evangelho de Jesus Cristo. Jesus Cristo, para o que crê, é o caminho, a verdade e a vida. Essa palavra é proclamada aos fiéis por meio de algum ministro autorizado: padre, pastor, diácono, algum ministro da palavra. Dentro do rito da celebração, esse ministro é a própria personificação de Jesus Cristo.

Portanto temos a tríade:  

 

  • A religião é o espaço sagrado;
  • O fiel é quem procura esse espaço para ser acolhido pelos outros e pelo Grande Outro, que é Deus, com as suas diferentes demandas;
  • E o ministro ordenado é quem conduz o fiel, dentro da religião, para que este encontre amparo, alívio e graça naquilo que é a sua busca.

 

A missão do ministro é favorecer a transformação do fiel, a partir de suas demandas, que, num primeiro momento, podem parecer muito superficiais. Ele deve direcioná-lo a uma reflexão muito mais profunda, para que encontre sentido em si mesmo e na sua espiritualidade, direcionando-o a uma energia extraordinária, conhecida como fé.

A fé não é propriedade de quem tem alguma religião. Entendendo o ser humano, digo que cada um de nós na face da Terra tem fé. Fé, entendida como confiança em algo ou alguém além de si mesmo. Originalmente, a fé está enraizada na capacidade de transcendência do humano que consegue enxergar-se fora de si mesmo. O que nem sempre vamos encontrar é a consciência da fé. A fé, contudo, quando conscientizada, efetiva a sintonia entre o que o ser humano traz na razão, na emoção e nos sentimentos. É a vibração organizada entre cérebro, coração, pulmão e pele.

PSC

É Napoleon Hill, no seu livro Quem pensa enriquece, que toma a dimensão da fé como vibrações internas e externas presentes numa pessoa. E, para sentir e ter resultados com a fé, é preciso fazer os sentimentos captados na pele serem equilibrados nas razões e emoções, com vistas a uma dada intenção. Napoleon Hill trabalha a intenção como desejo. Todo e qualquer desejo pode ser atingido com a boa e correta vibração de fé. Daí podemos compreender por que algumas pessoas dizem ter conseguido isto ou aquilo pela fé, e já outras pessoas, embora se digam com fé, também dizem não conseguir as coisas que desejam. A estas, faltou vibração, intensidade, o movimento equilibrado das sensações com as razões e as emoções.  

A fé, portanto, é capaz de “mover montanhas” (Mt 17,20), desde que bem canalizada. No último capítulo, o sétimo deste livro, trago uma reflexão específica sobre fé. Aqui neste capítulo, refletindo sobre religião, a visão de fé está mais voltada para o sentido antropológico, isto é, muito fundamentada no humano. Dentro da dimensão religiosa, precisamos ter uma visão mais teológica, estou consciente disto.

E, de acordo com a consciência e prática religiosa de cada povo, a será administrada junto a diferentes temas como: fé e direito, fé e política, fé e cultura, e assim por diante.

Fato é que todos temos fé, no seu sentido antropológico. O que acontece é que alguns colocam sobre si mesmos uma carga exagerada de razão, sufocando os sentimentos e as emoções. Outras pessoas colocam demais uma carga de emoções sobre si, que não permitem espaço para a razão. Outras ficam somente nos sentimentos, nos arrepios, nos dramas, sofrimentos e não adentram nem razão na emoção. Muitas vezes há o fanatismo, o radicalismo, segundo o qual diz-se que uns têm de mais, e outros, de menos ou nada têm. Há, muitas vezes na sociedade, confusão religiosa, como quando um dado grupo se acha estar com a verdade e outro estar com a mentira; um, com a salvação, e o outro, com a condenação. É preciso estudo, diálogo, aprofundamento das compreensões para haver o equilíbrio de fé.

Equilíbrio.

O ministro, conhecendo o fiel, vai orientando-o para cada vez mais canalizar todos os seus sentimentos, seus questionamentos e suas emoções para algo maior. Então, a partir da religião, apresenta quem realmente é Deus e as diferentes maneiras de canalizar a fé para ele.

Na religião cristã católica temos os sacramentos. São sete: Batismo, Reconciliação, Eucaristia, Unção, Crisma,  Matrimônio e Ordem.

Recebê-los e compreendê-los é essencial para a boa vivência do fiel nas dimensões antropológica (terrena) e teológica (divina). 

Conto agora uma metáfora para ilustrar o entendimento dos sacramentos. 

Pense no templo, isto é, a igreja onde os fiéis se reúnem para as celebrações. O alicerce da construção é Jesus Cristo. Deste alicerce, nascem os pilares. Amarrando os pilares, temos as vigas. Pilares e vigas são os sacramentos. Os pilares: Batismo, Eucaristia e Crisma. As vigas:Reconciliação (confissão), Unção, Matrimônio e Ordem. O telhado é o Espírito Santo. Os tijolos que constituem as paredes são cada fiel, sustentados no alicerce, amparados pelos pilares e ligados pelas vigas. Ainda, nessa estrutura, algo essencial é o presbitério, onde há a mesa da palavra, o altar e a cátedra (cadeira).

Toda essa metáfora se aplica a qualquer outra estrutura: em uma casa os tijolos são os membros da família; numa empresa, os membros são os integrantes, desde os de apoio aos da alta cúpula.

Na compreensão pastoral, os sacramentos são entendidos como:

– Sinais que permitem aos fiéis adentrarem no mistério do próprio Deus e do seu filho, Jesus Cristo, no Espírito Santo e na Igreja (“Igreja” com “I” maiúsculo, que quer dizer o Povo de Deus);

– Vivência ou experiência que conduz o fiel, dentro da Igreja, a uma missão. Neste sentido, todos são vocacionados (chamados) a realizar uma tarefa (missão) concreta neste mundo;

– Entrega dos fiéis, na perspectiva do amor demonstrado por Jesus, Bom Pastor, tal como o preceito: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!” (Jo 15,12).

Portanto, por meio da religião, como espaço do sagrado, cada fiel, orientado pelo ministro de Deus, se encontra como ser amado e procura dar sentido à sua vida naquilo que é e faz, numa dimensão sempre crescente, que vamos chamar de Reino de Deus.  

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