Como já tratamos sobre metáfora neste livro e falamos até sobre Coaching Ericksoniano, não me furtarei a usar aqui uma metáfora clássica. Sim, a morte é uma metáfora, a ressurreição também pode ser uma metáfora, assim como o tempo, a dor e o sofrimento.

Mas o uso de uma metáfora clássica como a que vamos usar ajudará o leitor a se localizar nesse campo tão fértil da comunicação humana. Para responder se você conhece a força que tem, vou compartilhar a metáfora do elefantinho. Poderosíssima, uma metáfora que me transforma sempre que a uso, e sinto que faz o mesmo em cada pessoa que mergulha em seus significados.

Você conhece a força que tem? Eu fico imaginando o quão curioso você pode ficar para desfrutar da sensação de estar totalmente focado em si mesmo, ou quão curioso você pode estar ou pode ficar para, no mínimo, desfrutar desta metáfora.

A metáfora do elefantinho

Um grande circo se instalou na cidade e trouxe várias atrações. Logo as pessoas se aglomeravam para ver a principal delas, um lindo elefante, que durante o dia ficava do lado de fora amarrado por uma pequena cordinha bem fininha, presa na parte dianteira de sua pata, que estava toda ferida e calejada.

Um jovem, observando aquela pequena corda que segurava o animal, se aproximou do domador que tratava o bicho e expôs a sua curiosidade.

— Amigo! Esta pequena corda não vai segurar esse elefante, se ele resolver escapar. Pode ser perigoso um bicho desse tamanho solto pelas ruas de nossa cidade. Pode causar sérios danos.

— Ele nunca vai escapar! Respondeu o domador, olhando calmamente para o curioso.

PSC

O jovem insistiu:

— Mas como você tem tanta certeza de que ele nunca tentará escapar? Ele está em um espaço pequeno, e essa fina corda não vai segurá-lo, se resolver conhecer a cidade. O domador, olhando dentro dos olhos do rapaz, esclareceu lhe:

— Meu jovem, ele não sabe da força que tem! Ahaá… O rapaz, não satisfeito, questionou aquele homem que parecia ser imune da preocupação.

— Mas ele poderia tentar algo e logo saberia que é muito mais forte do que essa corda que o prende. O domador, continuando a tratar o elefante, respondeu ao rapaz curioso:

— Para ele saber que pode, teria que ser treinado desde pequeno. Agora já é adulto e segue as ordens como aprendeu durante toda uma vida. O rapaz sorriu com um olhar sarcástico:

— Ah, mas se um dia ele tentasse, você estaria em apuros! O domador devolveu o sorriso com o mesmo sarcasmo com que foi interrompido.

— Meu jovem, este elefante foi criado assim desde pequeno. Suas marcas, na pata dianteira, que você pode observar, já estão calejadas, e ele já sabe que, se tentar escapar, elas irão doer muito, e não vai conseguir sair.

Quando ele era filhote, estava amarrado num toco muito maior do que ele, numa cordinha que não conseguia arrebentar. Nas suas tentativas, sempre fora consolado com doces, pipocas, água fresca, carícias e demais afagos que tanto o agradam. Ele entende, se acostumou, por mais que pese hoje 8 toneladas, seja grande e passe medo, ele não sabe da força que tem. Portanto, meu jovem, não é agora que o perigo nos cerca.

Este elefante já curou suas feridas e nunca mais irá tentar, por medo, insegurança e dependência desta pequena cordinha que um dia o cicatrizou e tirou a sua liberdade de ir e vir, fugir para onde quer que ele queira. O que lhe resta é esperar o dia do espetáculo e ser aplaudido por ter sido obediente aos comandos do seu domador. O elefante é como uma pessoa.

Quantas pessoas você conhece que seguem ordens todos os dias e nunca fizeram nada diferente do que foram treinados? Que nunca tentaram escapar?

Assim como o elefante, muitas pessoas foram amarradas desde pequenas em uma corrente. Por mais que tentem escapar dos seus espaços, espaços pequenos, querendo descobrir novas coisas, não vão conseguir. Com o tempo, vão acreditar que nunca conseguirão, e assim podemos amarrá-las, domá-las e usá-las para o que quisermos. Cada pessoa, metaforicamente falando, amarrada numa pequena corda, ou até num barbante, pode ser segurada.

Enquanto estiver alimentada em sua zona de conforto, num pequeno espaço, nunca tentará nada diferente. Em quais tocos você está preso? Quem tem ouvidos para ouvir que ouça. Quem tem sentimentos para sentir que os sinta. Quem tem olhos para ver que veja. O elefantinho em questão foi adestrado desde muito cedo no circo, provavelmente filho de um casal de elefantes que também teriam sido adestrados ali.

A limitação que o elefantinho vivia era consequência de uma limitação que também havia lhe sido transmitida pelos pais. Mas é claro que toda limitação pode ser superada, basta uma motivação: um motivo para a ação. Acompanhe comigo o final da história: Certo dia, naquele circo, durante um espetáculo, o elefantinho estava amarrado como de costume aguardando a sua hora de se apresentar, assim como outros animais no pátio, treinados para os espetáculos. Foi então que uma criança se afastou de seus pais e se aproximava perigosamente da jaula de um grande tigre faminto.

O tigre não daria conta de passar pelos espaços da jaula, mas a criança, por ser bem menor, conseguiria. Assim, a criança, perdida de seus pais, que certamente estavam distraídos com as apresentações no picadeiro, aproximava-se cada vez mais da jaula. Nenhuma pessoa naquele circo estava a ver aquela dramática cena a não ser o tigre. A criança passa pela correntinha do elefante, chama-o à atenção e continua o seu percurso.

O elefante, muito educado, dócil, encantado com aquela criança, mais uma entre tantas que já viera até ele, percebe que ela está indo em direção ao tigre. Agora então, no cenário, temos uma criança encantada, um tigre faminto e um elefante forte, mas aprisionado por uma correntinha, que para ele significava uma corrente muito resistente, amarrada num toco pesado.

O elefante, porém, entendendo o risco que a criança corria, percebendo que ninguém mais poderia fazer alguma coisa para resolver a situação, despertou uma força extraordinária, nunca antes tida, se agitava, batia com suas patas, sua tromba e, num impulso, rompeu as correntes derrubando também os tocos que o prendiam. Ele, então, numa atitude feroz, desviou a criança, afastando-a do perigo de morte que ela corria. Uma causa nobre: o elefante salvou a criança, ao libertar o poder da sua força.

Em geral não temos consciência de nossa força, da mesma forma que não temos (ou não queremos ter) consciência do poder que está em nosso interior. Despertamos nosso poder interior quando estamos de frente a algum problema, desafio, dificuldade etc. Quando estamos diante de uma causa nobre, que mexe profundamente com nosso interior, tendemos a agir com uma força e uma impetuosidade que desconhecemos em nós mesmos. Percebam que há aqui a conjugação do corpo, força racional e força emocional.

Num primeiro momento, tendo em foco o corpo, vê-se um elefante condicionado. Grande, forte, porém adestrado, condicionado na sua zona de conforto. Viera o esforço de se libertar, mas, diante da dor de se machucar, desistirá de continuar tentando. Ainda mais, fora induzido pelo adestrador a acreditar que, naquela situação, aceitar a corrente e o toco era o que de melhor poderia fazer.

Num segundo momento, a voz da razão. A razão, muitas vezes, leva a compreender que não adianta se esforçar, é melhor aceitar o fracasso. E, num terceiro momento, a força emocional. A inquietação diante daquela criança que estava para ser devorada pelo tigre. Um sentimento novo, uma reação diferente, dar tudo o que tem e despertar o poder adormecido, nunca antes conhecido. E a Força Espiritual Fato é que, de uma forma ou de outra, todos nós estamos, sem exceção, presos por alguma corrente a algum toco na vida. Diante da dualidade da vida, devemos, assim como o elefante, nos libertar dos tocos incongruentes com nosso propósito.

Cada um, com ajuda, com empenho, a partir de uma motivação maior, deve se libertar de tais aprisionamentos. Assim acontecendo, num dado momento de nossas vidas, nos vemos na divisa entre nossa sombra e nossa luz, bem no ponto zero em que, para baixo, mantemos atitudes negativas e, para cima, promovemos atitudes positivas. Nesse ponto zero de nossas vidas, temos condições de ver, de um lado, as atitudes diabólicas; de outro, as atitudes divinais de nossas vidas.

Acredito, pela minha fé, que Deus existe e nos criou para a liberdade, nos deu o livre-arbítrio, porém desejoso de que façamos a escolha de querer viver na luz, e não nas trevas. Acredito que há pessoas cada vez mais conscientes de fazer o bem, e não o mal. Pessoas que se ajudam e ajudam a outras. Quando temos a consciência do nosso chamado, da missão, somos então provocados a nos doar com o poder que temos. Aquele elefante descobriu que poderia fazer muito mais do que aquilo que parecia ser o único futuro destinado a ele.

Ele descobriu que poderia fazer muito mais e deixou vir à tona sua verdadeira essência, a essência de um grande ser: forte, grande e poderoso. Não precisamos de uma situação tão drástica para despertar quem realmente somos. Há outros meios, e a espiritualidade pode ser um dos lugares de nos descobrirmos.

O Coaching pode nos ajudar a chegar até lá.

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