O Senhor esteja convoco; Ele está no meio de nós; Abençoe-vos, o Deus da Vida: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, chegamos ao fim desta celebração, ou melhor, desta reflexão. Sim, temos algumas páginas e mais um capítulo adiante, o sétimo e último capítulo.

Mas é como o marinheiro diz após alguns dias em alto mar: “Terra à vista”; o estudante no fim do colegial: “Somos universitários”; o trabalhador no fim do mês: “Chegou o churrasco”. Enfim, é a enunciação de que o futuro já chegou.

E também, dentro da proposta metodológica que José Roberto Marques e eu escolhemos para estruturar este livro — as partes da missa e os 7 passos de desenvolvimento humano — aqui, neste capítulo se encerra parte da celebração, no que ela é entendida dentro do templo, na igreja.

O capítulo seguinte é uma referência ao que cada fiel faz após a missa, fora da igreja, na sua vida cotidiana. Dito isto, adentremos na reflexão, agora, sobre a Trindade.

Caberá o mistério da Santíssima Trindade em nossa pobre pequenez?” Andando pela areia da praia, Santo Agostinho submergia certa vez em pensamentos profundos e altíssimos que se elevavam ao céu. Entre seus raciocínios, pensava ele no mistério da Santíssima Trindade.

“Como é que pode haver três Pessoas distintas — Pai, Filho e Espírito Santo — em um mesmo e único Deus?” Ele avistou, de repente, um menino com um baldinho de madeira que ia até a água do mar, enchia o seu pequeno balde e voltava, despejando a água em um buraco na areia.

Santo Agostinho, observando atentamente o menino, lhe perguntou:

PSC

O que estás fazendo?

O menino, com grande simplicidade, olhou para Santo Agostinho e respondeu:

— Coloco neste buraco toda a água do mar! Diante da inocência do menino, o santo lhe sorriu e disse:

— Isso é impossível, menino. Como podes querer colocar toda essa imensidão de água do mar nesse pequeno buraco? O anjo de Deus o olhou então profundamente e lhe disse com voz forte:

— Em verdade, te digo: é mais fácil colocar toda a água do oceano neste pequeno buraco na areia do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus!

São muitas coisas no mundo que vamos atribuir como sendo mistérios de Deus. O Universo é sempre revelador de novas possibilidades, e devemos ter a humildade de que jamais, por mais evoluído que estejamos nas descobertas humanas, nosso conhecimento não será o suficiente para saber tudo, afinal este Universo é infinito, e o ser humano é apenas uma criatura dentro dele, por sua vez, finito nas suas condições físicas e mentais.

Também devemos sempre ter a consciência de que a lógica de Deus é diferente da lógica do ser humano. O que para o ser humano é cognitivo, isto é, aprendido como se aprende que 2 + 2 = 4, não é o mesmo para Deus.

Para Deus um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia (2 Pedro 3,8). Assim entendido, digo que compreender a Trindade, na experiência prática, não é assim tão complexo.

Tomemos a Bíblia, logo no início, no livro do Gênesis (Gn 1,1-25), e teremos a presença clara de Deus como o Criador. Mais à frente, neste mesmo livro (Gn 1,26-27), temos a presença do ser humano como imagem e semelhança de Deus, portanto, a dimensão filial.

E, nesta criatura amada de Deus, é soprado o Espírito, o Espírito Santo de Deus (Gn 2,7) Posteriormente, com a organização da Igreja e já estruturada a doutrina trinitária, temos: Deus Pai é o criador, Jesus Cristo é o redentor, e o Espírito Santo é o santificador.

Chamar Deus de Pai nos dá a consciência de que somos filhos, em relação a todas as demais criaturas, filhos especiais. Isto diz que não somos seres quaisquer, somos imagem e semelhança de Deus. E diante desse Pai, recebemos a missão de cuidar das demais criaturas.

Assim sendo, somos responsáveis por garantir o equilíbrio de tudo que existe na natureza, desde a referência ao jardim do Éden (Gn 2,8-25). Negar esta responsabilidade é afastar-se de Deus e permitir o desequilíbrio (Gn 3,8-24).

Como filhos de Deus, perdemos o medo de ser quem somos, de nós mesmos, e então cuidamos da natureza também. Na compreensão do Filho, somos conscientizados sobre a existência do outro, entendendo-nos como irmãos. Somos diferentes, mas participamos do mesmo destino.

Compreendemos a doação de Jesus por inteiro em favor do outro. E assim, quando reconhecemos o outro como irmão, vencemos o medo em relação a esse outro. E na compreensão do Espírito Santo, nos vemos construtores de uma história, em constante progresso.

E perdemos o medo da história, pois ela se faz conduzida por Deus. O pai nos oferece Jesus Cristo. Jesus Cristo assume por excelência o papel do Filho que nos instrui, apresenta a luz, e daí temos a oportunidade da pertença em Deus. E o caminho se faz caminhado.

Ao longo da nossa história, vamos nos deparando, hora mais com o Filho, hora mais no Espírito e sempre agradecidos ao Pai. A liturgia da Igreja, como já visto no capítulo IV neste livro, nos dá uma excelente noção da Trindade de forma espaçada ao longo do ano.

Ela se inicia no tempo do Natal, quando verbo de Deus se encarna na nossa realidade terrena e temos a oportunidade de conhecer o Filho. Aprendemos a nos conhecer conhecendo o homem Jesus. Aprendemos a nos valorizar porque Jesus nos apresenta o amor do Pai para nós. Aprendemos a amar, pois Jesus é amor.

Chegamos à Páscoa onde tomamos consciência da luz de Deus em nós e, de forma especial, a Pentecostes quando recebemos o Espírito Santo que nos edifica como seres especiais em relação a toda a criação. E assim, do Natal a Pentecostes, percorremos o caminho da salvação que se faz em Deus Pai.

E, como filhos e filhas, irmãos e irmãs no mundo, experimentamos a presença misericordiosa do Pai nas muitas realidades do nosso dia a dia.

Na Trindade, nós somos, nos movemos e vivemos. Para solenizar todo esse processo, a Igreja celebra, no domingo após Pentecostes, a Festa da Santíssima Trindade. É uma grande ação de graças por tantos benefícios recebidos.

É uma retomada do Natal (encarnação do verbo de Deus), da Epifania (glorificação da luz de Deus), da Páscoa (passagem), da Ascensão (subida do Espírito de Deus) e de Pentecostes (descida do Espírito de Deus sobre as pessoas).

Quanto à relevância do domingo, observa-se No mistério do Cristo, livro de Pius Parsch, que a data do domingo é um presente de Deus para nós, afinal foi nesse dia em que ele descansou, também nesse dia deu-se a Ressurreição de Cristo e, ainda, foi num domingo que o Espírito Santo abençoou a primeira Igreja com o Pentecostes.

Conclui-se, mediante essa regularidade vista na obra divina, que o domingo é o dia da Santíssima Trindade. Entender a Trindade é tomar consciência de uma espiritualidade que liberta, pois saímos da ideia de orfandade. Uma vez que tomamos consciência da Trindade, saímos do fechamento de nós mesmos, da indiferença em relação ao outro.

Aprendemos que fomos criados no amor, temos a demonstração de como vivermos o amor e a certeza de no amor somos cada dia mais acolhidos. Crescemos constantemente em estado de graça. Digo, para encerrar esta seção, que mais do que tentar entender a Santíssima Trindade, esforce-se por vivê-la.

A partir do momento em que ela se fizer vivida, sentida na realidade concreta do dia a dia, ela então se fará entendida em sua pessoa. Explicá-la é o que menos importa, vivê-la importa muito. O Povo de Deus, na sua simplicidade, vive a Trindade.

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