Em primeiro lugar, é preciso frisar que a depressão é uma condição complexa, podendo ser caracterizada por múltiplos fatores neurológicos, fisiológicos, psicológicos e até genéticos.
Para o escritor e jornalista Johann Eduard Hari, autor de Lost Connections: Uncovering the Real Causes of Depression – and the Unexpected Solutions, é preciso ir muito além dos remédios para tratar a depressão. Citando a Escala de Hamilton, instrumento utilizado para medir o grau de severidade da depressão dos pacientes, que vai de 0 (sem depressão) a 51 (tendências suicidas profundas), Hari afirma que uma melhora nos padrões de sono pode surtir uma melhora de 6 pontos, enquanto os medicamentos, em média, alcançam apenas 1,8 ponto de melhoria.
Os medicamentos costumam ser efetivos principalmente em início de tratamento, e a tendência, na ausência de outras abordagens, é que o efeito deles vá diminuindo com o tempo, exigindo doses cada vez mais altas.
Essas ressalvas de maneira alguma excluem os potenciais benefícios dos antidepressivos, apenas têm o objetivo de apontar para o fato de que eles apenas tratam sintomas, de maneira que a superação de um quadro depressivo depende de uma abordagem mais holística, mais integral do paciente, deixando para os remédios uma função mais voltada para o controle da doença.
Sendo uma das características da depressão o desequilíbrio de alguns neurotransmissores, entre eles a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, a maioria dos medicamentos são voltados para essas substâncias. A função deles em geral é aumentar a disponibilidade delas no organismo, melhorando sua captação, diminuindo o descarte das não captadas, aumentando a quantidade presente no corpo etc.
Portanto, há diversos tipos de remédios para depressão; eles têm objetivos diferentes e atuam em neurotransmissores diferentes. Como é difícil determinar em qual (ou quais) deles está o desequilíbrio, bem como qual é a natureza desse desequilíbrio, pode ser necessário fazer testes e observar qual é o antidepressivo mais adequado a cada caso.
É comum pessoas que fazem uso desse tipo de medicamento sentirem efeitos colaterais. Entre os mais recorrentes estão visão borrada, náuseas, diarreia, tremores, movimentos involuntários e alteração, para mais ou para menos, na libido. Cada tipo de antidepressivo tem uma gama de efeitos colaterais distintos e estes variam muito de pessoa para pessoa. Existe a possibilidade da ocorrência de crises hipertensivas e de um efeito causado pelo excesso de serotonina no organismo, chamado síndrome serotoninérgica, que causa agitação e hiperatividade, febre, insônia, entre outras coisas, podendo, em casos graves, causar coma.
Em quadros de depressão severa, em que a pessoa sofre de letargia e desânimo muito acentuados, pode ocorrer um efeito dramático: como esse tipo de situação também envolve tendências suicidas, existe o risco de uma melhora em início de tratamento diminuir a letargia sem atingir os pensamentos suicidas. O professor Robert Sapolsky, da Universidade de Stanford, chama a atenção para o fato de que essa melhora em início de tratamento é um momento que requer acompanhamento mais de perto ainda do paciente, com tantas abordagens quanto for possível.
Ao contrário, pode acontecer também, nesses casos de letargia profunda por depressão, que o antidepressivo proporcione à pessoa a faísca de energia necessária para dar um passo importante na vida, como enviar um currículo e receber resposta, refazer uma conexão antiga ou mesmo procurar ajuda, provocando um loop positivo e uma melhora gradual e mais ampla do quadro; quando se trata de depressão, inúmeras particularidades de caso são influentes na evolução ou involução da doença.
Geralmente, o uso da medicação demora algumas semanas para fazer seu efeito sobre os neurotransmissores, mas, um relato comum entre pessoas com depressão, ao serem informadas de que a doença é caracterizada também por um desequilíbrio fisiológico tratável com medicamentos, é a sensação imediata de alívio, assim como a melhora dos sintomas com a primeira dose do remédio receitado.
Esse tipo de relato dos pacientes, no entanto, não indicaria propriamente um efeito placebo, já que ele não perdura ao longo do tratamento; esse alívio e essa melhora iniciais apenas reforçam a influência da esfera psicológica na doença. A esperança, afinal de contas, não é algo tão abstrato assim, já que é, ao mesmo tempo, causa e consequência de sinapses, movimento de neurotransmissores entre os neurônios.
 
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