Razão e emoção formam uma das mais clássicas e intrigantes dualidades da história humana. Não é à toa que o par já foi tema de inúmeras reportagens, canções, livros e estudos de diversas áreas do conhecimento — como a psicologia, a filosofia e a neurociência.

Ao longo da história, muitos filósofos de diferentes épocas e origens se propuseram a examinar a questão. Ainda que cada um deles tenha dado sua valiosa contribuição, o fato é que até hoje não chegamos a uma resposta definitiva. Aliás, passamos a nos questionar: será mesmo que existe uma resposta correta?

Entre razão e emoção, a sugestão aqui é que você continue acompanhando este artigo para compreender essa complexa questão.

A superioridade da razão?

No conflito entre razão e emoção, obtiveram destaque os pensamentos de Platão, filósofo da Grécia Antiga, e René Descartes, filósofo francês do século XVII. Segundo a linha de raciocínio desses pensadores, a razão e a emoção são forças separadas, praticamente opostas.

Essa ideia ainda é forte hoje em dia, especialmente no mundo ocidental. Ainda existem pessoas que defendem a noção de que as emoções atrapalham as tomadas de decisões. É bastante disseminada também a ideia de que quanto mais fria e racional for uma pessoa, mais assertivas serão suas escolhas, pois não foram “prejudicadas” pelas interferências emocionais.

A célebre frase de Descartes “Penso, logo existo” simplifica e resume o pensamento de valorização da razão.

Por que precisamos da razão?

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De fato, a razão é um fator fundamental para que possamos alcançar os nossos objetivos. De acordo com o dicionário, ela pode ser definida como a “faculdade de raciocinar, apreender, compreender, ponderar e julgar, num raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo”.

É por meio da razão que nós conseguimos fazer contas, planejar uma compra no supermercado, analisar estatísticas em nosso dia a dia de trabalho, planejar as tarefas do dia, resolver problemas e encontrar relações de causa e efeito.

Utilizar a razão é, portanto, desenvolver a capacidade de planejar nossos atos e tentar antecipar resultados, de modo que nossas decisões sejam tomadas com o mínimo possível de riscos.

Um exemplo bastante trivial de utilização da razão é verificar a previsão do tempo antes de passar um fim de semana na praia. O cérebro emocional está ansioso e feliz para se divertir e relaxar no litoral. No entanto, a razão analisa os dados e identifica que no próximo sábado vai chover, de modo que é necessário adiar a viagem.

O uso da razão permitiu, no exemplo acima, que a pessoa chegasse à conclusão de que, por questões climáticas, ir à praia neste fim de semana não seria tão divertido quanto esperar por um sábado de sol e calor.

De forma resumida, a razão é a força de nossa mente que analisa as circunstâncias de forma clara, lógica e objetiva para diminuir os riscos de nossas escolhas. O ser humano é projetado para fugir da dor e aproximar-se da felicidade, e a razão o auxilia nessa missão. Ela nos permite desenhar estratégias para que alcancemos os nossos objetivos em menor tempo e com menos erros no processo.

Por que precisamos das emoções?

Ao ler os parágrafos acima, você pode ter chegado à conclusão de que a razão é mesmo a força mais poderosa que existe. Ela é muito importante, mas, sozinha, não faz diferença.

Imagine que uma pessoa passou a vida inteira dedicando-se aos estudos para formar-se em medicina. Foi um ótimo aluno na escola, fez cursos preparatórios, planejou-se financeiramente para o curso na universidade, comprou diversos livros, estudou muito e, por fim formou-se. Seu sonho, no entanto, era ser psicólogo.

Do ponto de vista da razão, a história acima não tem problema algum. Um indivíduo determinou para si um objetivo e organizou-se de forma lógica para alcançar esse objetivo. No entanto, essa estratégia sozinha não foi capaz de fazê-lo de fato feliz. Faltou levar em consideração o componente emocional.

As emoções são reações da mente humana a determinados estímulos ambientais. Por meio delas, identificamos aquilo que nos afasta e aquilo que nos aproxima da felicidade. No caso acima, provavelmente o indivíduo apaixonou-se pela psicologia, mas ignorou essa emoção por alguma questão exclusivamente racional.

As emoções humanas são muito complexas e incluem reações como: felicidade, tristeza, surpresa, nojo, desprezo, raiva etc. As emoções positivas têm o objetivo de fazer com que identifiquemos o que nos faz bem, de modo que as situações que as provocam sempre se repitam. Em contrapartida, as emoções negativas têm o objetivo de fazer com que identifiquemos o que nos faz mal, de modo que cuidemos para que elas não ocorram novamente.

Por isso, ignorar as emoções não é algo positivo, ao contrário do que muita gente pensa. Elas nos protegem de muitos males e nos ajudam a compreender o que queremos em nossas vidas. Sem elas, jamais entenderíamos o que nos faz verdadeiramente felizes e, portanto, jamais conseguiríamos estabelecer objetivos.

A emoção nos faz descobrir as atividades que nos dão prazer, as pessoas com quem desejamos construir amizade, as pessoas com quem desejamos um envolvimento amoroso e até mesmo a carreira que nos dá mais prazer.

A razão isolada nos ajuda a alcançar objetivos, mas não necessariamente isso nos fará felizes. O médico do exemplo acima fez tudo certo para formar-se, mas será que ele é feliz, sabendo que tinha o sonho de ser psicólogo?

Qual caminho escolher?

De forma resumida, podemos entender que as emoções nos ajudam a perceber o que nos faz felizes e a determinar nossos objetivos de vida, enquanto a razão nos ajuda a desenvolver estratégias para que esses objetivos sejam alcançados.

As pesquisas da neurociência nos permitem concluir que é inútil pensar em qual das duas forças é mais importante, uma vez que a essência da felicidade humana consiste no equilíbrio entre esses dois sistemas, sem que um ou outro seja privilegiado.

Se uma pessoa é extremamente racional, mas ignora suas emoções, ela provavelmente alcançará objetivos, mas não serão objetivos que a farão verdadeiramente feliz. Se o indivíduo está atento às suas emoções, mas não ouve a voz da razão, ele saberá bem o que quer, mas não saberá como obtê-lo.

Nesse sentido, a neurociência tem mostrado uma afinidade maior com as filosofias orientais, por exemplo, que sempre defenderam a ideia de que os dois sistemas precisam coexistir em equilíbrio e harmonia. Ela vai de encontro à clássica ideia ocidental de que as emoções atrapalham a razão.

Como agir?

Dessa forma, quando temos uma decisão difícil a ser tomada, precisamos fazer dois questionamentos básicos:

  • Do ponto de vista emocional, isso me aproxima ou me afasta daquilo que me faz feliz?
  • Do ponto de vista racional, isso pode trazer alguma consequência negativa para mim ou para outras pessoas?

A felicidade depende de conciliarmos os dois sistemas. É preciso fazer o que é correto e o que nos faz felizes. Quando falta um dos dois aspectos, é melhor não agir.

Como citamos no início do texto, essa reflexão é muito profunda e tem sido estudada por diferentes áreas da ciência e por personalidades históricas ao longo do tempo. Entretanto, se pudermos resumir o que diz a neurociência contemporânea (e também a ideia central deste artigo) em uma palavra, ela seria “equilíbrio”.

Que as reflexões acima te ajudem a tomar decisões mais sábias e a conduzir uma vida repleta de equilíbrio, conquistas e muita felicidade. Se este artigo fez sentido para você, não se esqueça de deixar seu comentário aqui embaixo e também de compartilhar estas informações com as pessoas que você ama!