Amor é um fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer.” Este poderoso trecho da poesia do poeta português, Luís Vaz de Camões, é um belo exemplo da expressão da dualidade do amor, daquele amor que tanto tem o poder de curar, como o de adoecer a nossa vida. E se veneno está o antídoto, é muito importante saber dosar a dose, ou então, a cura que ele traz pode se transformar, na verdade, numa overdose, no fim, na morte.

Claro que isso é uma metáfora, porém, quando falamos de amor estamos verdadeiramente caminhando por uma linha bastante tênue. Ao mesmo tempo em que é bom, não é. Ao mesmo tempo em que faz bem, dói. Ao mesmo tempo em que nos devolve a vida, nos aproxima um pouco mais da morte. Todos os sentimentos que ele nos traz, por um lado nos induzem a sermos seres humanos infinitamente melhores e, por outro, revelam em nós as piores emoções e os piores comportamentos que podemos ter.

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Tudo depende do que o desencadeia, do que o alimenta e do que faz aquele amor ter um sentido de ser, de existir e de se perpetuar. Do contrário, quando não conseguimos conduzir o amor de forma positiva, as nossas relações pessoais, familiares, sociais, amorosas, interpessoais e profissionais, por exemplo, podem acabar sendo amplamente prejudicadas.

Neste sentido, encontramos numa extraordinária metodologia intitulada: Constelação Sistêmica, uma ferramenta psicoterapêutica importante, que atua nos ajudando a entender a origem dos nossos comportamentos, a influência das energias externas e seus efeitos. Também nos auxilia a conquistarmos maior autoconsciência, a reequilibrar a vida e num melhor entendimento deste amor que está presente em todos os âmbitos de nossa existência.

Constelação Sistêmica

Assim como a Constelação Familiar, a Constelação Sistêmica também é um método psicoterapêutico desenvolvido pelo alemão Bert Hellinger, o grande criador destas fantásticas abordagens. Tem como objetivo principal compreender como as emoções e energias que recebemos e acumulamos interferem em nossas crenças, atitudes, decisões e resultados de modo geral e encontrar mecanismos efetivos que ajudem a eliminar, por completo, estes bloqueios.

PSC

Com isso, o processo de Constelação Sistêmica busca reorganizá-las de modo a permitir que o cliente possa encontrar seu equilíbrio emocional e eliminar os aspectos negativos dos seus comportamentos que interferem em sua satisfação e bem-estar. A intenção é que, com isso, a pessoa consiga conquistar maior qualidade de vida em suas relações afetivas, pessoais, familiares e profissionais e tenha condições de agir de forma mais positiva.

Todos nós fazemos parte de sistemas que possuem seus próprios valores, significados, padrões, hierarquias, crenças, normas e objetivos. Vemos isso, por exemplo, em nossa família e também nos locais onde trabalhamos. Como são organismos vivos, estes signos vão mudando conforme a necessidade dos grupos, de modo a atender suas demandas, anseios e necessidades. Porém, estas alterações podem trazem sérios desequilíbrios para o próprio sistema.

E sabe por quê? Porque nestes sistemas cada membro tem um papel específico, com uma razão própria e definida de ser e existir. No sistema familiar tradicional, por exemplo, o pai atua como o agente de proteção da família e de provedor dos recursos daquele grupo, enquanto que a mãe tem o papel de amparar e educar os filhos, e estes de respeitar as regras familiares e obedecê-las.

Por isso mesmo, quando algo nesta estrutura se altera, quando os papéis se invertem ou são trocados, surgem os desequilíbrios no sistema, que só podem ser reajustados quando cada um voltar ao seu lugar e papel original. Este exemplo se aplica a todos os sistemas em que estamos inseridos e, claro, no amor não é diferente.

Quando um casal conflita em seus valores e objetivos na relação, consequentemente, isso pode trazer dor e sofrimento para uma das partes ou para ambas. Para evitar isso, seus anseios e sentimentos devem estar alinhados, ou seja, ninguém deve sobrepor-se ao outro, mas ajudar a construir um sistema positivo que seja benéfico aos dois.

Quando isso não ocorre, quando não há um consenso entre as intenções, emoções e objetivos das partes, nascem os conflitos de poder, as imposições de controle, ou seja, há uma desintegração do relacionamento amoroso, do amor, o que geralmente causa dor e tristeza. Contudo, o amor não se resume apenas as relações afetivas, no universo corporativo ele também tem seu papel especial. Vamos entender como isso funciona!

Quando idealizamos a Missão, Visão e os Valores de uma empresa, fatores como: padrões, hierarquias e normas também são essenciais para garantir a organização e manutenção de um sistema equilibrado dentro dela, onde as pessoas compreendam seu papel individual e coletivo e possam atuar alinhados com os anseios e cultura organizacional. Quando isso não é respeitado, surgem os mais diversos problemas no ambiente de trabalho. Isso pode torná-lo um local improdutivo quanto ao alcance de bons resultados e um tanto quanto enfadonho para se atuar, o que pode levar a um alto turnover.

Qual seria o cenário ideal? Bem, não existe empresa perfeita, mas quanto mais alinhado e organizado é o seu sistema, melhores são os seus resultados. Para isso, a figura do líder é essencial. Este, por sua vez, deve ter o papel de mentor; guia; professor; coach e liderar seus profissionais de forma assertiva, mostrando os caminhos, corrigindo os erros, valorizando os acertos e dando feedbacks e oportunidades de crescimentos à sua equipe. Aos liderados, cabe respeitar e seguir as regras da organização, caminhar junto com o seu gestor e buscar atender, com maestria, as suas demandas, ou seja, cumprir bem o seu papel.

Depois de trazer estes exemplos, quero dizer que tudo isso se relaciona, na essência, com o amor próprio, com o amor que cada um é ou não é capaz de sentir por si mesmo. Quando assumimos cada um de nossos papéis na vida (pai, mãe, filho, profissional, esposo ou esposa, cidadão…) precisamos estar cientes de quem somos e do poder que temos de transformar a nossa realidade por meio de ações congruentes com nosso sistema de valores e crenças, por exemplo.

Assim, se não conseguimos nos amar, dificilmente conseguiremos amar o que vivemos e somos; evocando assim um estado de autoadoecimento amoroso. Neste sentido, existe uma lei universal da Constelação Sistêmica que diz que – “O mesmo Amor que Cura é o mesmo Amor que Mata!”.  Na prática, esta afirmação significa que os nossos resultados, sejam eles pessoais ou profissionais, dependem diretamente da forma como conduzimos e direcionamos este poder transcendental do amor em nossa vida.

Logo, se deixarmos esta energia vital se transformar em algo nocivo, nós não conseguiremos acessar todos os seus privilégios e benefícios ou transformar isso em resultados extraordinários em todos os âmbitos do nosso existir. Entretanto, de onde vem esta força, como isso se conecta com o todo e como projetamos este sentimento no mundo? Sabemos ou não sabemos amar?

Neste sentido, existe o amor egoísta, focado apenas em atender as próprias vontades e necessidades da pessoa, o amor altruísta, que foca na satisfação e felicidade do outro; o amor dependente, que coloca na outra pessoa o peso de satisfazer alguém e por aí vai.

O ponto chave destes diversos tipos de amor é encontrar o caminho do meio, ou seja, um amor que nem seja voltado demais para nós, nem demais para o outro ou ainda dependente das ações de alguém. É este equilíbrio que proporciona uma terceira via; o caminho do meio, onde a pessoa é capaz de, se amar e amar ao outro, sem negligenciar nenhum aspecto importante ou depender de terceiros para ser um ser humano completo, pleno e feliz.

Por isso mesmo, podemos dizer, sem errar, que existe o amor que cura e o amor que adoece. Vamos entender quem é quem nesta história.

O Amor que Cura

É aquele que enaltece a pessoa, que lhe faz reconhecer suas qualidades, dons e talentos, seus pontos de melhoria e amar-se sem reservas e condições. O amor que cura é motivador, transcende os problemas, faz deles uma fonte saudável de crescimento e enxerga cada dia e cada experiência como uma nova oportunidade de autoaprimoramento.  O amor que cura une as pessoas em volta de sentimentos positivos, leva a ações também positivas, torna as mentes criativas, mais produtivas, felizes, fortalece os laços de confiança, respeito e o próprio amor próprio. Traz vida a vida e é seu ponto de equilíbrio.

O Amor que Adoece

Não é recíproco, não fortalece as relações e apenas divide os seres humanos. É egoísta e preocupa-se apenas com a própria satisfação. Desestimula o diálogo, faz com que uma pessoa queira dominar e controlar a outra; mantê-la sob suas rédeas, e não tenha respeito ou compaixão por ela.

O amor que adoce o coração; adoece a mente, corrói a alma, alimenta ideias e ações nocivas em todos os tipos de relações, sejam elas pessoais, profissionais, afetivas ou sociais.  Vive assombrado pelo medo, pelo excesso de cobranças, pelo cume doentio, exige o tempo todo do outro o atendimento de suas expectativas e quando não é atendido, se rebela, se vinga, prende, machuca, humilha e causa muitos danos, causa muita dor.

Cada tipo de amor, o que cura e o que adoece, tem em si uma semelhança incontestável: ambos buscam a reciprocidade no amor, ou seja, amar e ser correspondido, amar e ser aceito, amar e ser amado. Porém, enquanto o amor que cura é baseado num mindset positivo, proveniente de uma pessoa que conhece suas possibilidades, qualidades e limites, o amor que adoece é regido pela imaturidade emocional, pela busca da própria satisfação, que faz com que o indivíduo faça do outro uma espécie de escravo de suas vontades do seu amor, o que influencia negativamente tudo ao seu redor.

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O Poder do Amor e da Falta de Amor Nas Organizações e na Vida

Quando catalisamos de forma positiva esta energia poderosa do amor, em todas as instâncias de nossa vida podemos ter excelentes resultados. No trabalho, por meio de sua influência nós podemos nos tornar mais criativos, resolutos, empáticos, otimistas, flexíveis, respeitosos e produtivos, como também líderes melhores e mais preparados para liderar e desenvolver pessoas. Tudo isso, certamente ajuda em nosso crescimento profissional e, especialmente, em nossa evolução como seres humanos.

Já quando não é o amor que impera, vemos profissionais assombrados por sentimentos negativos, pela inveja, egoísmo, agressividade, inflexibilidade, falta de respeito e empatia e agindo de forma sempre nociva, impulsionados pelo medo de perder seu espaço ou de que alguém cresça mais.

Como reflexo disso, estes colaboradores acabam sendo improdutivos, prejudicam a qualidade do ambiente de trabalho e corrompem não apenas suas relações interpessoais, como também a comunicação e integração dos demais, tendo atos reprováveis como, por exemplo, a mentira e a fofoca. Atitudes sabotadoras como estas representam os “infernos organizacionais” que são criados pelas lideranças “sem amor”, ou seja, pelas pessoas que deveriam ser as principais responsáveis por cuidar do bem-estar de seus funcionários e sucesso da empresa.

Neste sentido, podemos dizer, sem errar, que líderes e empresários com estes comportamentos são as principais fontes de desmotivação das equipes nas empresas. Isso acontece porque seu amor adoecido faz com que eles tenham comportamentos altamente negativos também, o que adoece todos os sistemas ao seu redor. Assim, as coisas só começam a mudar, quando a forma de amar destas pessoas muda, e passa de adoecida para curada.

O mesmo problema pode ser visto também no interior de muitas famílias, cujos sistemas estão desequilibrados pelos atos dos seus membros.

O autoamor é antes de tudo um amor integral, que abrange seu “eu pessoal” e o “eu profissional” e que se torna sistêmico à medida que é exercitado em todos os ambientes onde a pessoa existe. O amor é troca, para ser pleno precisa ser recíproco e correspondido. Podemos até amar sozinhos, mas o amor só se torna mesmo completo quando encontra uma terra fértil, onde pode ser semeado, crescer, florescer e frutificar.

Convido você a refletir sobre qual tipo de amor você tem alimentado ao longo de sua vida. Será que sente e emana um amor adoecido ou um amor curado? Para obter esta resposta é importante parar e avaliar seus comportamentos e resultados atuais e buscar entender como seu estado mental e emocional influencia suas ações, o seu autoamor e o amor pelo outro.

Seja por medo, insegurança ou mesmo presunção muitas vezes achamos que o nosso jeito de amar é o “jeito certo”. Assim, criamos uma visão distorcida deste sentimento, usando-o, inclusive, para: oprimir, aprisionar, ofender, magoar e enfraquecer as pessoas ao nosso redor. Esta é a pior face do amor.  Busque, então, encontrar um sentido, um propósito, alimentar um amor positivo que te leve além em todos os níveis da sua vida como ser humano.

Por fim, termino com um trecho da fantástica Carta de São Paulo aos Coríntios que fala do sentimento mais sublime que existe, o amor. “[…] O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria; não se ensoberbece; não se porta inconvenientemente; não busca os seus próprios interesses; não se irrita; não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre; tudo crê; tudo espera; tudo suporta… […] Agora, pois, permanecem: a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.”