A adolescência é uma fase na vida caracterizada pelas oscilações e mudanças bruscas de humor. A revolta com as regras, com pais, professores e outras autoridades é comum neste período. Além disso, momentos de tristeza ou raiva exageradas também fazem parte daquilo que comumente passamos na adolescência.
Transformações importantes se dão quando na transição de crianças para adultos. Nossos corpos não são mais os mesmos, a sexualidade aflora, o bullying, a pressão estética e para a tomada de decisões é grande e nós afetam imensamente. Estamos formando nossa personalidade, conhecendo a nós mesmos e o mundo para decidir quem somos, o que gostamos ou não.
Tudo isso é maravilhoso mas pode ser também causador de grandes estresses. Tudo é maior e fica mais intenso, pois não temos parâmetros de comparação. Os momentos de felicidade são únicos, tudo é novo e queremos experimentar de tudo. Mas assim como aquilo que é encantador e extraordinário toma uma escala gigante, as tristezas e decepções também são sentidas e percebidas com uma intensidade avassaladora.
E é por isso que a depressão na adolescência deve ser percebida com um cuidado ainda maior e com mais atenção, pois muitas vezes pode ser confundida com uma tristeza característica desta fase ou com má criação e rebeldia. Infelizmente, pais, educadores e até mesmo profissionais da área da saúde podem relevar os sintomas característicos da depressão por confundirem ou considerarem que simplesmente são característicos da fase e do humor destes jovens.
O envolvimento da família, aqueles que mais convivem e conhecem o jovem, é imprescindível. Mudanças drásticas no comportamento da pessoa devem ser observadas com cuidado, já que a intensidade das emoções e a impulsividade são características deste período e podem piorar intensivamente o quadro depressivo.
De acordo com informações de estudos da Universidade americana de Columbia, apesar da regressão nos casos de depressão em outras faixas etárias, na adolescência e juventude houve um aumento de quase 40% nos últimos cinco anos. Isso é impressionante e nos diz muito sobre nossa sociedade. A pesquisa foi realizada nos EUA, mas reflete a realidade de muitos países.
Entre os sintomas da depressão nos jovens está principalmente o isolamento. Nesta fase da vida é ainda mais importante o contato e interação social. Assim quando o adolescente fica o tempo todo em seu quarto, jogando vídeo game, na Internet ou no celular, sem interagir com seus amigos ou com a família é preciso ficar ainda mais atento. Quando apenas ignoramos um problema ele não vai embora mas pode se tornar muito maior. O isolamento é um indício importante de que algo não vai bem na vida deste jovem.
O nervosismo extremo é outra característica fundamental deste tipo de quadro depressivo. Sim ficar nervoso, esbravejar, e até mesmo descontar nos pais é normal. Mas quando este comportamento se prolonga muito, novamente é preciso considerar que as coisas estão longe do ideal.
Ficar muito cansado, sentir-se mal constantemente, dores pelo corpo, falta de vontade de fazer qualquer coisa, principalmente aquilo que anteriormente se tinha interesse, tudo isso também podem ser características depressivas.
Ter comportamentos considerados perigosos ou inseguros são um meio de o jovem suavizar o sofrimento que sente. O uso de álcool e drogas pode agravar a situação nestes casos. A promiscuidade, falta de uso de preservativos e anticoncepcionais também são comportamentos arriscados que podem ter graves consequências e são uma forma de manifestar seus sentimentos mal resolvidos.
Se o adolescente normalmente tem um bom empenho escolar e tira notas boas, mas de repente sua performance se altera, pode ser um dos sinais de que ele está deprimido. Seu comportamento na escola também pode se alterar. A falta de interesse, bagunça, conversas excessivas e o mal comportamento com professores e outros alunos podem indicar que este adolescente está passando por uma tristeza anormal.
Além destes sintomas outros comuns à depressão também se aplicam aos adolescentes e jovens: uma tristeza excessiva e muitas vezes sem explicação. Falta de interesse, vontade e prazer em realizar qualquer atividade, principalmente aquelas que antes o atraiam. Desregulação na alimentação e consequente ganho ou perda de peso. Distúrbios no sono, que o levam a dormir em demasia ou a falta completa de sono. Não ter energia, não conseguir manter o foco e a atenção e sentir-se inútil. Tudo isso caracteriza a depressão.
Devemos ficar atentos a fala dos jovens pois isso revela muito sobre seus pensamentos. Falar muito sobre a morte, sobre sumir, que ninguém sentirá sua falta, que era melhor desaparecer podem revelar pensamentos e ideações suicidas.
Não podemos ser levianos e achar que isso é algum tipo de brincadeira e não levar a sério. Essas afirmações são preocupantes e podem ser um pedido de ajuda velado. No país o suicídio é umas das principais causas de morte entre jovens na faixa etária dos 15 aos 29 anos.  Entre os anos de 2000 e 2015 houve um aumento significativo de 65% na faixa etária de 10 a 14 anos de idade, e de 45% na faixa de 15 a 19 anos.
Por isso, é preciso estar vigilante a certos comportamentos e falas, pois podem revelar verdades e problemas graves, mesmo que de modo subliminar. Na adolescência as oscilações hormonais são muito drásticas, tudo é sentido com mais força. Assim a biologia tem um papel importante no surgimento e manifestação da depressão nos adolescentes.
Eles ainda não têm o aparato emocional fortalecido para lidar com dor, sofrimento e frustrações de modo mais adequado e menos danoso, sentindo tudo com muito mais intensidade. O abuso de substâncias, as incertezas e descobertas, a pressão de descobrir a si mesmo e àquilo que se quer fazer da vida colaboram para que a depressão na adolescência seja ainda mais complicada e acentuada.
A uso da Internet e redes sociais pode dificultar ainda mais a relação consigo, fazendo com que este jovem se sinta diminuído comparando-se a todo momento a amigos e celebridades. A exposição excessiva a imagens de corpos e vidas perfeitas a todo momento influencia a mente ainda em formação e pode diminuir a autoestima, autoimagem e auto apreciação desse indivíduo.
O bullying e o cyberbullying são agressões constantes que minam o amor próprio e a valorização pessoal destes jovens, que sofrem com a angústia de se sentirem perseguidos e intimidados o tempo todo, o que leva ao medo e isolamento, e que podem causar ou agravar um quadro depressivo.
Para que haja a melhora é preciso entender todos os sintomas e sinais, e compreender quando isso passa de algo normal e esperado para esta fase. Não se pode levar na brincadeira os sintomas, declarações, comportamentos e sentimentos destes sujeitos, mas compreender as particularidades da depressão característica da adolescência.
O tratamento pode se dar com o uso de antidepressivos e psicoterapia. Isso, juntamente com o apoio e carinho de familiares e amigos fará toda a diferença para a retomada dos estudos, da convivência social saudável e da busca de atividades que lhe gerem prazer e felicidade. De forma que o adolescente possa compreender-se melhor, saber lidar com mais equilíbrio com suas frustrações, desilusões, tristezas e relacionamentos cotidianos. Isso de fato contribuirá para um crescimento e desenvolvimento mais saudável em busca da felicidade.
Fontes:
https://veja.abril.com.br/saude/depressao-entre-jovens-as-dores-do-crescimento/
https://veja.abril.com.br/saude/o-preocupante-aumento-de-depressao-e-suicidio-entre-os-jovens/
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/bullying.htm
https://saude.abril.com.br/familia/depressao-na-adolescencia-e-coisa-seria/
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/depressao-na-adolescencia/
 
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