A depressão é uma doença comum no Brasil. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) somos o país onde há maior incidência de depressão na América Latina, sendo que 5,8% da população brasileira sofre com o transtorno. Há muitas variedades da doença e algumas são associadas com outros transtornos psicológicos o que acarreta certas especificidades. Entretanto, a caracterização da depressão tem sintomas gerais, comuns a maioria, o que pode ajudar em sua prévia identificação e tratamento.
Uma das características mais impressionantes e relevantes sobre este distúrbio é que sua incidência é muito maior em mulheres do que em homens. A incidência chega a ser duas vezes maior no sexo feminino do que no masculino. Esse dado é especialmente importante, pois pode facilitar a identificação dos sintomas e decorrente abordagem mais adequada de tratamento. Segundo a OMS em todo o mundo 9,5% das mulheres podem sofrer ou estão sofrendo depressão, em contrapartida a porcentagem de homens é de 5,8%.
Um dos fatores mais expressivos na diferenciação e prevalência de casos de depressão em mulheres é definitivamente a biologia, ou seja, a constituição e funcionamento do corpo feminino. A mulher pode ficar mais suscetível já que ao longo da vida a oscilação hormonal é muito forte. Na gravidez e menopausa há picos e quedas hormonais ainda mais drásticas, influenciando seu humor e saúde.
Entretanto não podemos delimitar os efeitos biológicos como única causa na prevalência em depressão em mulheres. Fatores sociais e psicológicos também responsáveis pela predominância depressiva feminina. Além disso, independentemente do gênero, é preciso levar em conta a saúde física, os hábitos e o histórico pessoal e familiar de cada um considerando a sua possível predisposição.
A diferença no índice depressivo começa a partir da adolescência, onde as mudanças físicas, hormonais e na constituição dos corpos fica mais expressiva. Ao longo dos anos e do desenvolvimento desses indivíduos nota-se que isso se torna ainda mais relevante.
Entre os anos da menarca, a primeira menstruação, e o início da adolescência, começam a ocorrer no corpo feminino as mudanças hormonais que transformam tão drasticamente seu corpo e seu temperamento. A pressão estética, tão infundida nas mentes femininas e outras questões como estudos e convívio social, podem ser fonte de estresse, influenciando seu humor, saúde e identidade.
Após a gravidez pode ocorrer um tipo de depressão específica às mulheres: a depressão pós-parto. O abalo hormonal aqui, novamente, tem uma atuação enorme para a instalação do transtorno. O tabu envolvendo esta depressão pode ser especialmente complicado para a mulher, que muitas vezes não entende de onde vem seus sentimentos acerca de si mesma e de seu filho. E um dos fatores mais importantes para a eventual melhora nestes casos é principalmente o envolvimento do parceiro e da família no cuidado com a criança e no tratamento do distúrbio.
A partir dos 45 anos de idade, até mais ou menos os 60 anos a diferença na ocorrência de depressão entre homens e mulheres diminui. Mas por alguma razão, a partir desta idade, na velhice, novamente há ascendência nos casos depressivos que envolvem o gênero feminino. A menopausa é um elemento importante a se considerar sobre esta diferenciação, o que causa um abalo profundo em sua estabilidade hormonal.
No período da meia idade e início da terceira idade e velhice ocorrem muitas transformações naquilo que é considerado necessário para uma mulher e seu papel na sociedade e família. A beleza é um deles. A perda da juventude é erroneamente considerada como perda da beleza e atração femininas. Essa ideia pode gerar grandes abalos ao psicológico da mulher que vê seu valor esvair com o passar dos anos, o que pode gerar ansiedade e estresse.
Outro papel social feminino é a geração e cuidado de filhos. Já no início da velhice é comum que os filhos já estejam partindo para a faculdade, para o mercado de trabalho e para a criação de suas próprias famílias. Isso pode constituir um sentimento de abandono e desolação na mulher, que muitas vezes, fica responsável pela criação, educação e cuidado dos filhos. Essa situação pode gerar um grande vazio, não somente em sua casa, atividades e responsabilidades, mas também em sua alma.
Devido estes dois fatores, entre outros, o sentimento de amor-próprio e senso de propósito femininos, especialmente nas idades mais avançadas, podem ficar fortemente comprometidos, colaborando para a sensação de tristeza profunda.
Cada fase da vida de uma mulher apresenta sintomas diferentes de depressão. Suas relações afetivas, seu passado e sua autoimagem, tudo isso é afetado de modo que a pessoa passa a não ver sentido nas coisas, olhando a vida com grande pessimismo. Seu trabalho, passar tempo de qualidade com seus entes queridos e qualquer outra atividade se torna muito pesarosa e complicada. Até mesmo as mais banais e necessárias podem ser relegadas. Indícios depressivos podem incluir ainda: irritação, dificuldade para manter a atenção, dificuldades relacionadas com sono e apetite, perda de libido e anseio sexual.
Na idade escolar os sintomas podem envolver falta de interesse nos estudos, diminuição expressiva nas notas, mal comportamento e possivelmente distúrbios alimentares como bulimia e anorexia. É também importante notar e estar ciente da importância da aparência e da aceitação de seu corpo como maneiras de compreender melhor se esta mulher está passando por alguma dificuldade psicologia. Aliás, é possível que ela seja acometida por diferentes transtornos, que se manifestaram de modo diferente, combinado com a depressão.
As mulheres tendem a ter vínculos sentimentais mais fortes com todos aqueles com as quais se relaciona e isso pode ser também uma questão importante na diferenciação da tendência da depressão feminina.
Há mulheres que no período fértil do mês podem apresentar sintomas muito pronunciados de alterações de humor, devido as oscilações hormonais presentes neste período. Algumas têm uma TPM (Tensão Pré-Menstrual) tão expressiva que podem apresentar sintomas, mesmo que não tão graves e passageiros, de depressão.
Apesar do sentimento de tristeza e irritabilidade serem normais na TPM, se chegam a ser tão difíceis que atrapalham a vida desta mulher, é preciso discutir métodos para melhorá-los com um médico. O uso de anticoncepcionais hormonais também pode um motivo de uma tristeza descomunal e possível depressão. Assim se há suspeita de correlação entre o uso de anticoncepcionais e depressão é preciso esclarecer isso com um médico, que eventualmente, pode receitar outros métodos contraceptivos que não envolvam hormônios ou que tenham doses mais baixas, o que poderá contribuir para a melhora nos sintomas.
As responsabilidades femininas de cuidado com os afazeres domésticos e cuidado com os filhos demandam muito de sua mente e emocional e contribuem para o estresse e ansiedade. Espera-se dela a capacidade de realizar tudo isso, e muitas vezes não há ajuda. O abandono paterno ou o encargo exclusivo feminino de todas essas tarefas pode sobrecarregar a mulher, que porventura, se sente sozinha nesta missão de vida. Se ela trabalha fora de casa a jornada é dupla o que pode prejudicar ainda mais a exaustão, influenciando sua saúde mental e seu emocional.
A depressão feminina tem suas particularidades que devem ser observadas com cuidado e atenção. As causas da depressão em mulheres e sua incidência comprovam que é preciso ter uma abordagem específica em seu diagnóstico. Se você ou alguém que conhece se enquadram nos sintomas e situações descritas procure um médico especialista.
O tratamento juntamente com bons relacionamentos, atividades prazerosas, convívio social, sentimento de pertencimento e inclusão, além da compreensão de amigos e familiares contribuem para a melhora e evolução no quadro depressivo. Entendendo as características específicas e as causas da depressão feminina fica muito mais fácil procurar ajuda e compreender que tipo de atuação deve-se tomar em cada caso.
 
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