Querida pessoa, vamos mergulhar em um dos princípios mais profundos e transformadores da vida e do desenvolvimento humano, um tema central nas Constelações Familiares desenvolvidas por Bert Hellinger: o equilíbrio entre dar e receber. Muitas vezes, pensamos que o amor é suficiente para sustentar qualquer relação, mas a verdade revelada pelas ordens sistêmicas é que, para que o amor flua e nos una verdadeiramente, é preciso que ele esteja em ordem.

As ordens do amor não são regras morais ou conceitos filosóficos; são forças da natureza que podemos observar em todas as relações humanas. Enquanto o pertencimento (a pertinência) e a hierarquia (precedência) são fundamentais, o equilíbrio na troca é vital para a saúde de nossos vínculos, sejam eles familiares, fraternais ou amorosos. Compreender e aplicar essa ordem é o caminho para restabelecer a harmonia, dissipar o mal-estar e o peso que, por vezes, sentimos nas interações cotidianas.

O Poder da Troca: Como a Consciência Governa Nossas Relações

Este princípio de equilíbrio entre dar e receber é determinado pela nossa própria consciência. Assim que alguém recebe algo de outro, surge uma obrigação, um sentimento de dívida, que nos impele a retribuir. Nos sentimos devendo à pessoa até que pagamos essa dívida com algo de valor igual, e só então nos sentimos livres em relação a ela novamente.

Em um relacionamento saudável, a troca é um ciclo crescente e ativo. Para Hellinger, o ideal é não apenas receber, mas sim tomar, pois tomar é um ato mais ativo. Quem recebe e toma fica grato e, em dívida, devolve algo. O mais incrível é que, nas relações onde há amor verdadeiro, a pessoa que retribui dá um pouco mais do que o igual. Isso faz com que a outra parte se sinta novamente em dívida e devolva ainda mais, aprofundando o vínculo. É assim que a relação cresce e o amor pode permanecer eternamente.

O Vínculo do Casal: Dar na Medida Certa

Nos relacionamentos íntimos, como o casamento, esse ciclo de dar e receber deve ser cuidadosamente equilibrado. Esse equilíbrio não precisa ser instantâneo, momento a momento, mas deve se estabelecer ao longo do tempo. Quando o equilíbrio é mantido, a relação flui e há bem-estar.

Por outro lado, quando um parceiro assume a postura de dar muito mais do que o outro pode ou está disposto a receber, ele desequilibra a relação e pode, inconscientemente, se colocar na posição de pai ou mãe do outro. Isso esfria a intimidade e a relação ruirá. O parceiro que recebe demais pode se sentir incapaz de restaurar a igualdade, o que pode levá-lo à raiva, à busca por distrações ou até ao abandono da relação.

Outro padrão de desequilíbrio ocorre quando alguém se doa muito, mas não se permite receber. Se existe um padrão de fazer demais pelo outro, existe o risco de essa pessoa estar repetindo um padrão familiar, talvez não se permitindo receber a vida dos pais. Em alguns casos, a recusa em receber pode levar a comportamentos autodestrutivos por parte do parceiro que deu muito, como trair ou abandonar a relação por não conseguir retribuir a grandeza do que lhe foi dado.

Para evitar esses desvios e garantir que os relacionamentos sejam duradouros, a medida certa é essencial: é preciso dar o melhor ao outro e dele receber o mesmo, nem mais, nem menos.

Se a alma sente o peso da troca desordenada, é porque há um padrão inconsciente em ação. Desenvolver Inteligência Emocional e ferramentas de autoconhecimento é fundamental para identificar e transformar esses padrões que limitam as relações e a carreira.

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A Grande Exceção: O Fluxo da Vida Entre Pais e Filhos

Existe uma exceção vital a essa regra de equilíbrio: a relação entre pais e filhos. Quem pode devolver algo de igual valor aos pais? A vida é inestimável, e é o maior bem que recebemos. Os pais são os doadores e os filhos são os receptores. Nessa hierarquia, os pais vêm antes dos filhos.

Por isso, na relação primária, nunca haverá um equilíbrio na troca. A forma como o filho pode retribuir aos pais é assumindo a própria vida plenamente e, então, passando-a adiante. Isso pode ser através dos próprios filhos ou de muitas outras formas ao serviço da vida, como criar coisas novas e se dedicar ao crescimento pessoal e profissional. Quando um filho honra o que recebeu e usa essa força para crescer, os pais se sentem recompensados e reconhecidos.

O Sim à Vida: Aceitação, Gratidão e a Cura do Vazio Interior

Não assumir a vida plenamente está intimamente ligado ao desequilíbrio do dar e receber, pois tem a ver com não receber a vida que veio dos pais. Quando nutrimos julgamentos, a ideia de que os pais deveriam ter sido diferentes, ou focamos no que eles não deram (além da vida), experimentamos um vazio interior. Esse julgamento se volta contra nós e impede que aceitemos a nós mesmos e aquilo que temos de igual aos pais.

O maior bem que recebemos é a vida, e tudo o mais é bônus, é extra. Quando escolhemos olhar para a nossa origem com gratidão e aceitação, a vida flui com mais facilidade. A aceitação dos pais, com seus acertos e erros, significa um “sim” interior que nos fortalece para seguir nossos próprios destinos, deixando o que é deles com eles, e guardando conosco somente o que nos pertence. Se não há essa aceitação, buscamos compensar esse vazio interior com conquistas externas ou buscas intelectuais, na tentativa de provar o nosso valor.

A Devolução com Amor: Equilíbrio no Sentido Negativo

A necessidade de equilíbrio se manifesta também quando somos prejudicados. Nesses momentos, sentimos o impulso de retribuir o dano, em uma lógica de “olho por olho”. A necessidade de equilíbrio, mesmo no negativo, é insuperável, e tentar suprimi-la com “nobre virtude” ou perdoar sem antes equilibrar, pode, ironicamente, colocar a relação em perigo. O perdão unilateral pode tirar a pessoa da relação de igual para igual, colocando-a em uma posição de superioridade, com um resultado semelhante a quando se dá amor demais.

A melhor maneira de equilibrar um dano, de forma que traga paz para o sistema, é retribuir um pouco menos mal. Isso é, “vingar-se”, mas desta vez, com amor. Essa atitude surpreende o outro, permite que ambos se lembrem do amor inicial e faz com que a troca positiva comece novamente, com mais atenção e cautela. Como resultado desse equilíbrio, o amor se aprofunda e o sistema encontra paz.

O caminho para a harmonia sistêmica é a reinclusão, a gratidão e a honra aos destinos dos que vieram antes. É dar a cada um o seu lugar de direito, permitindo que a ordem seja restabelecida para que todos fiquem fortes e possam seguir o seu próprio caminho, dizendo um belo SIM para a vida.

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FAQ – Perguntas Frequentes sobre o Equilíbrio no Dar e Receber

O que acontece quando dou mais do que recebo em uma relação?

Quando alguém dá mais do que o outro pode ou quer devolver, o equilíbrio da relação é perturbado. A pessoa que recebe em excesso pode sentir raiva ou dificuldade em restaurar a igualdade, o que, com frequência, leva ao esfriamento do vínculo ou ao seu fim. Na relação de casal, fazer demais pode colocar o doador na posição de pai ou mãe, o que prejudica a intimidade.

Como os filhos retribuem a vida que receberam dos pais, já que não podem pagar essa dívida?

Os filhos não podem devolver a vida em valor igual, pois ela é inestimável. A forma correta de retribuir é assumir a própria vida plenamente, com gratidão e aceitação aos pais, e então passar essa vida adiante. Isso pode ser por meio da criação dos próprios filhos ou ao serviço da vida de outras formas.

O que significa “tomar” em vez de “receber” na Constelação Familiar?

No contexto das Constelações, o ato de tomar é visto como mais ativo do que receber. Significa aceitar, de forma consciente e plena, o que foi dado, incluindo a vida e tudo que veio dos ancestrais, com gratidão e respeito. É essencial para que o indivíduo possa, então, dar de volta de maneira equilibrada.

O que é o equilíbrio negativo e como ele pode melhorar uma relação?

O equilíbrio negativo surge quando há um dano ou prejuízo em uma relação, e a consciência exige uma compensação. Para restaurar a paz e o amor, o equilíbrio ideal não é ferir o outro da mesma forma, mas sim retribuir o dano com um pouco menos mal, o que é chamado de “vingança com amor”. Isso surpreende o ofensor e permite que a troca positiva recomece, aprofundando o vínculo.