Giacomo Pratellesi/Shutterstock Buda nos ensina poderosas lições sobre amor, compaixão e respeito

Cura – aprendizado: a metáfora é uma das principais estratégias que Milton Erickson uti­lizava para se comunicar com um paciente. É um tipo de linguagem universal, indireta, não ameaçadora, transcultural e que pode ser específica.

Pode-se dizer que “Procurando por Buda” é uma metáfora adequada a ser usada após uma pessoa sair do transe ou como parte de um transe familiar. Ela concede à mente in­consciente informação útil para reconstruir ou reenquadrar, de maneira mais útil, a expe­riência de vida de um coachee.

Procurando Por Buda

Nicram Sabod/Shutterstock Buda nos ensina que aquilo que buscamos pode estar na nossa frente

Buda saiu em peregrinação pelo mun­do com o intuito de se encontrar com in­divíduos a quem seus pupilos haviam se referido e para falar a eles sobre a Verdade. A cada passo dele, pessoas que acredita­vam no que ele dizia vinham aos milhares para ouvir suas palavras, para tocá-Io ou para vê-Io, certamente pela única vez em suas vidas.

Quatro monges que descobriram que Buda estaria na cidade de Vaali emalaram seus pertences, os colocaram sobre suas mulas e decidiram rumar até lá, deduzindo que a viagem duraria, se tudo corresse bem, algumas semanas. Um deles, que não conhecia muito bem a rota para o local, seguiu os outros pela estrada, enquanto estes iam à frente.

Depois de três dias de marcha, uma grande tempestade os surpreendeu. Os monges apressaram o ritmo e chegaram a seu destino, onde procuraram por refúgio até que o temporal passasse. Mas o último deles não chegou à cidade e teve que pedir abrigo na casa de um pastor de rebanhos, no subúrbio. O morador deu ao visitante acolhimento, teto e comida para passar a noite.

PSC

Na manhã seguinte, quando estava pronto para partir, o monge foi dizer adeus ao pastor. Ao chegar perto do curral, viu que a tempestade havia amedrontado as ovelhas e que o pastor estava tentando reuni-las.

O monge pensou que seus companheiros, a esta altura, estariam deixando a cidade e que, se não partisse logo, iriam embora. Mas ele não podia seguir em sua jor­nada e deixar o pastor que, para sua sorte, havia dado abrigo a ele. Por isso, decidiu ficar com o dono da casa, até reunir o rebanho.

Três dias se passaram dessa forma, após os quais o viajan­te voltou à sua rota, dobrando o ritmo do seu passo para al­cançar seus parceiros. Seguindo a trilha deles, o monge parou em uma fazenda para reabastecer seu estoque de água.

Uma mulher indicou a ele onde encontrar água potável e pediu desculpas por não poder ajudá-Io, pois ela tinha que continuar a colheita. Enquanto o monge dava água a seus burros e enchia suas odres, a mulher lhe contou que após a morte de seu marido, se tornou difícil para ela colher os vegetais antes de apodrecerem.

O homem percebeu que a campesina nunca realizaria a co­lheita a tempo, mas ele também sabia que se ficasse, perderia a trilha e não poderia estar em Vaali quando Buda chegasse lá. “Eu o verei alguns dias depois”, pensou o monge, sabendo que Buda ficaria algumas semanas na cidade. A colheita levou três semanas, e assim que terminou sua tarefa, o viajante retomou sua jornada. Na estrada, descobriu que Buda não estava mais em Vaali. O mestre havia ido para outra cidade, pelo norte. O monge mudou seu trajeto e seguiu para o novo local.

O homem poderia ter chegado a tempo, porém apenas para ver Buda e não para ouvir seus ensinamentos. Contudo, à beira da estrada o viajante teve que salvar dois senhores que estavam sendo arrastados por uma corrente e não seriam capazes de escapar da morte sozinhos. Apenas depois de os anciões se recuperarem, o monge se animou a continuar o percurso, sabendo que Buda continuava sua jornada.

Vinte anos se passaram, e o monge continuou tentando al­cançar Buda, mas toda vez que ele chegava perto de seu objetivo, alguma coisa acontecia para retardar seus passos. Sempre havia alguém que precisava dele e o atrapalhava, sem saber, a chegar a tempo. Posteriormente, o homem descobriu que Buda decidiu morrer em sua cidade natal.

Com essa descoberta, o viajante disse a si mesmo que sua última oportunidade estava se aproximando. “Se eu não quiser morrer antes de ver Buda, não posso me distrair da minha jornada. Agora, nada é mais importante do que vê-lo antes que ele parta. Haverá tempo para ajudar os outros mais tarde”, disse.

E com sua última mula e poucas provisões, o homem foi mais uma vez para a estrada. Uma noite antes de chegar à cidade, se deparou com um veado ferido, no meio da estrada. O monge fez curativos, lhe deu água e cobriu suas feridas com lama fresca. O animal arfava, tentando inspirar, contudo piorava cada vez mais.

“Alguém deveria ficar com ele”, pensou o viajante, “assim eu poderia seguir meu caminho”. Mas não havia ninguém à vista. Com muita ternura, ele acomodou o animal em algumas rochas e seguiu sua marcha. Deixou água e comida ao alcance do bicho e se levantou para deixá-Io.

Após dar apenas dois passos, o homem percebeu sem demora que ele não poderia conhecer Buda sabendo, no fundo de seu coração, que havia abandonado um ser indefeso e moribundo.   Então, o monge descarregou a mula e continuou tomando conta do veado. Durante toda a noite, o homem velou o sono do ferido como se tomasse conta de um filho. Ele deu de beber na boca do animal e trocou os tecidos, que serviam de curativo, em sua testa.

Ao amanhecer, o veado havia se recuperado. O monge acor­dou, sentou em um lugar afastado e chorou. Por fim, se deu conta de que havia perdido sua última oportunidade. “Nunca serei capaz de encontrar Buda”, disse em voz alta. “Não continue procurando por mim, porque você já me achou” – proferiu uma voz que veio por detrás dele.

O homem se virou e viu que o veado se encheu de luz e foi tomando a forma de Buda, que disse: “Você teria me perdido se tivesse me deixado morrer à noite para ir ao meu encontro na cidade. E a respeito de minha morte, não fique perturbado – o Buda não pode morrer enquanto existirem pessoas como você, que são capazes de seguir minha jornada por anos, sacrificando seus desejos pelas necessidades dos outros. Assim é o Buda e o Buda em você.”.