A ideia do ser humano como um microcosmo que mimetiza a natureza é antiga. Ela encantou os primeiros homens que tentavam explicar a si mesmos e os mistérios que os rondavam, reforçou a visão de que somos parte de uma força única a reger o Universo, e inebriou plateias através dos tempos com a concepção de que o que está em nós também está no mundo. E vice-versa.

Quando os habitantes pioneiros deste planeta se viram dotados de uma capacidade intelectual que os permitia fazer associações e produzir símbolos, começaram a se fazer as clássicas perguntas do tipo “quem somos e para onde vamos?”, aquelas mesmas perguntas que você se embananou todo para responder para o seu filho, ou que ainda tentará responder para si mesmo e para alguma criança curiosa. Como eles estavam longe de poder exibir a dúvida metódica cartesiana e mais distantes ainda de fazer uso das ciências modernas, foram à luta com o que tinham à mão e daí passaram a explicar a si próprios e aos seus semelhantes com base nos elementos da natureza.

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Olhar para o comportamento dos animais e produzir associações com os nossos não é o mais errado dos recursos. Assim como observar as estações e ver semelhanças no nosso próprio desenvolvimento. Tanto não era uma aposta errada essa que fizeram no passado que levou alguns séculos para se descobrir que nossos instintos de fato chegam às vezes a ser os mesmos dos mamíferos ou das aves em geral. Também foi preciso bastante tempo, precisamente 21 séculos depois de Cristo, para que se descobrisse que os neurônios que povoam nossas cabeças são contados em quantidades aproximadas ao número de estrelas que se supõe existir na Via Láctea. Mais uma vez, a semelhança do nosso mundo interno com o mundo externo não é por acaso.

Como em uma metonímia bem feita, isto é, uma ideia que explica a parte pelo todo, somos sempre convidados a ver em nós mesmos manifestações, forças e acontecimentos que enxergamos no mundo exterior. A tentação para isso sempre foi grande e por isso teorias inteiras, em diversas áreas do conhecimento, foram concebidas se utilizando desse arranjo.

Só quando já sabíamos bastante do mundo que habitamos foi que a ciência conseguiu nos fazer adentrar um pouco mais no mais impenetrável dos cosmos de que se tem notícia: a mente humana. A ausência de guias confiáveis para nos conduzir pelos confins da mente foi um dos fatores que até então inibiam drasticamente as incursões por esse universo. Mais do que a possibilidade de uma viagem sem volta, o que sempre afugentava os estudos aprofundados da nossa mente era a carência de um modelo coeso, fundamentado e acessível para se tentar decifrar aquela instância que, convenhamos, é bastante indecifrável.

Das salas de aula, laboratórios e consultórios da exuberante Viena do século XIX é que começaram a provir um emaranhado de estudos, hipóteses e métodos que mais tarde estariam reunidos nos mais avançados apontamentos da Psicologia e em um dos seus braços que ali nascia a Psicanálise. O maior responsável por tudo isso foi Sigmund Schlomo Freud, um pesquisador arguto e minucioso que se tornaria um sinônimo dos estudos da mente humana em uma proporção igual ou maior do que a frequência com que sua imagem é associada com o seu bigode.

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É certo que Freud não é a única figura de destaque de todos os avanços que só a duras penas conseguimos chegar. Seus resultados são a síntese de um esforço que mobilizou atores diversos ao redor do globo em um trabalho em parte desordenado de lançar luzes por sobre os sombrios contornos e conteúdos da mente humana. E se é de simbolismo que falamos, Freud tornou-se o símbolo mais expressivo de um esforço científico generalizado de uma tentativa de explicação de nós mesmos, em uma etapa para além daquela de recorrer apenas aos elementos da natureza.

A interlocução que esse autor manteve com alguns dos pensadores do seu tempo foi também decisiva para que sua obra se sobressaísse como o experimento mais bem acabado de elucidação de questões que, por mais que estejam presentes em todos nós, careciam de respostas menos vagas e mais certeiras. Se é um caso de se fazer justiça e definir contribuições, a verdade é que Freud nunca bateu o escanteio e saiu correndo para cabecear sozinho, mas no fim das contas, foi ele, sim, quem marcou um gol decisivo nessa partida.

Freud estabeleceu que nossa mente é composta de três núcleos básicos, pelos quais todas nossas ações, comportamentos, pensamentos, gestos ou manifestações são processados. A origem dessa estrutura tripartite é menos o modelo de simplificação que antes concebia o corpo humano em três partes (cabeça, tronco e membros) do que a própria sistematização que o autor enxergou em pleno funcionamento em cada um de nós.

Ego, Id e Superego – A Trindade da Mente Humana

A força das explicações que têm como chave os elementos do mundo externo e que foram a trilha inicial com que os fenômenos começaram a ser explicados na infância da humanidade pode ser relembrada em Freud. Não por acaso, ele foi em busca dos mitos e alegorias presentes na antiguidade clássica para rotular, nomear ou simplesmente tornar mais inteligível os casos, temas e situações com os quais se deparava. Mais do que meramente uma resina de sofisticação em seus trabalhos, os usos feitos da mitologia e simbolismos clássicos se tornaram o fator crucial inclusive para a popularização do seu pensamento.

A insistência na busca de elementos da natureza como meios explicativos está também na figura a que Freud primeiro recorreu para descrever a divisão básica da mente humana. A concepção do iceberg é ainda a mais forte imagem de representação sobre as porções consciente e inconsciente de que toda mente é composta. Continua também sendo a mais fidedigna por deixar claro que o que chamamos de mente consciente é apenas o trecho exposto do bloco de gelo, com toda uma imensidão submersa da mente a representar a inconsciência e tudo que ela tem de não revelado a olho nu.

Pela ótica de Freud, que se tornou a mais conhecida e palatável mesmo ao gosto dos não especialistas, nosso aparelho mental tem três subdivisões básicas, responsáveis por aspectos específicos da nossa personalidade. Ego, Superego e Id compõem a trinca em cujas malhas somos forjados nos mínimos aspectos. Para o bem e para o mal. Isto é, levando em conta todos os produtos positivos e negativos da mente humana.

O superego é a parte moral da psique e representa os valores coletivos, que são comuns à sociedade e não apenas listados pela livre discricionariedade dos indivíduos. O superego permeia tanto as instâncias conscientes quanto inconscientes, influindo nesses dois níveis mentais.

O aprendizado do superego é através dos pais e de outras pessoas próximas. É desenvolvido na fase de 3 a 6 anos de idade durante o período fálico no desenvolvimento psicossexual. 

Sua função primordial é a de inibir as pulsões, desejos e predisposições de agir de forma contrária aos valores médios da sociedade em que estamos compreendidos. Ele controla os impulsos do Id. Representa os nossos freios morais internos, os mesmos que nos colocam nos trilhos de uma existência de acordo com a moral e os costumes acatados pela coletividade. Ao invés de simplesmente lutar pela perfeição, ele tem a função também de persuadir o ego a voltar aos objetivos moralistas e não os realistas. 

Agradeça ao seu ego, portanto, por não sair xingando quem lhe rouba a vaga no estacionamento ou por não recorrer aos instintos mais primitivos quando seu chefe lhe nega aquela promoção. É graças ao superego que a vida em sociedade é possível e a partir dele que as conquistas da civilização estão disponíveis a todos, pois consiste em dois sistemas, a consciência e o eu ideal..

Quando um comportamento fica a desejar do seu eu ideal, ele pode ser punido pelo superego. Mas de que forma? Através da culpa. Quando nos comportamos adequadamente, pode, o superego nos recompensar através desse eu ideal e fazendo com que nos sintamos orgulhosos. 

Caso uma pessoa tenha um padrão muito alto do seu eu ideal, tudo que o que ela fizer terá a representação de fracasso. É na fase criança (infância) que o eu ideal e a consciência são definidas. Através dos valores parentais, da forma que você recebeu os primeiros conceitos e educação. 

Já o Id se alimenta, por assim dizer, dos rejeitos do superego, isto é, tudo aquilo que nossos freios trataram de dosar e filtrar. O Id é a fonte da energia psíquica. Ele é formado pelas pulsões, instintos e impulsos inconscientes. Ele é movido pela lógica do prazer e seu único objetivo é justamente buscar o prazer, fugindo da dor.

O id se faz por todos os componentes hereditários da personalidade desde o nascer, a vida, a libido e a morte, sendo a parte impulsiva e inconsciente que dá respostas direta e imediata aos nossos instintos. Um exemplo é o bebê, sua personalidade é toda id e somente mais tarde desenvolve neste bebê o ego e o superego. 

Deixado à própria sorte, o Id é aquela nossa instância que não conhece limites e age somente na busca da sua satisfação imediata. Valores, juízo, moral, costumes, ética e tudo aquilo que de alguma maneira nos diferencia dos animais são coisas completamente desconhecidas para ele. Por definição, ele é o que temos de mais animalesco e egoísta e é o maior responsável por todas as demandas primitivas e perversas.

Freud concebeu o Ego como sendo um complemento ao Id, já que ele leva em conta suas vontades, mas coloca nelas o guizo do bom senso e da realidade. Ele introduz a razão, a espera e até o planejamento no nosso comportamento, fazendo com que o indivíduo conceba estratégias mais ou menos realizáveis na conquista dos seus desejos, levando em conta, claro, as regras do jogo. Enquanto o funcionamento do ego é pela razão, o id é desordenado e irracional.

Operando através dos princípios reais e na elaboração de formas reais de satisfação das exigências o id, a fim de evitar reações muitas vezes negativas da sociedade. Seu comportamento se baseia nas normas, na etiqueta e nas regras da sociedade. 

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Assim como o Id, o Ego também está em busca de prazer, de reduzir as tensões, evitando a dor, embora de uma forma contrária ao id, de uma forma mais realista. O conceito de errado ou certo não existe para o ego.

Veja a analogia, feita por Freud, do id em relação ao ego. O ego é “como um homem a cavalo, que tem que conter a força superior do cavalo”. (Freud, 1923, p.15)

Quando o ego comete uma falha na tentativa de usar os princípios da realidade, com um nível de ansiedade, alguns mecanismos inconscientes de defesa são aplicados com o intuito de afastar a ansiedade. 

O Ego é fundamental ainda por desempenhar uma função de equilibrista, fazendo a ponte entre os desejos ilimitados do Id e a pressão repressiva do Superego, compondo a decisão da personalidade. E é exatamente por isso, por beber das duas águas, que ele não pode ser considerado nem inteiramente consciente nem inconsciente por completo. Como uma ponte entre extremos, ele se firma propositalmente no caminho do meio.

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