Para Antoine de Saint-Exupéry, autor do clássico O Pequeno Príncipe, “só se vê bem com os olhos do coração”. Já para o cientista Masataka Watanabe, do Instituto Max Planck, na Alemanha, ver e enxergar são processos diferentes e ativam áreas distintas do cérebro.

Durante muito tempo, muita gente acreditava que os dois termos eram sinônimos. Entretanto, a ciência mostra que “consciência visual” e “atenção visual” são mecanismos independentes, que moldam como interpretamos o mundo. Assim, o que captamos com os olhos nem sempre é o que realmente compreendemos. Quer entender melhor essa diferença? Então, continue a leitura e descubra!

Você vê ou enxerga?

Segundo o cientista Masataka Watanabe, especialista no estudo da percepção visual, ver e enxergar são ações distintas. Enxergar é captar imagens com os olhos, sem necessariamente analisá-las com profundidade. Já ver é ir além: interpretar, compreender e se conectar de fato com o que se observa. Em uma livraria, por exemplo, folhear um livro é apenas enxergar; mergulhar na leitura é realmente ver, absorvendo e interagindo com a mensagem do autor.

No coaching, essa diferença se evidencia por meio do rapport, técnica que conecta o coach e o coachee (o profissional e o cliente) em um nível mais profundo, criando empatia, afinidade e sintonia genuína. É mais do que olhar para alguém; é perceber o que existe além das palavras, captando também as emoções e intenções.

Portanto, os olhos revelam muito sobre nós. Movimentos sutis comunicam sentimentos e estados internos, e como responsáveis por mais de 80% das informações que absorvemos, reforçam a máxima: muitas vezes, é preciso realmente ver para crer.

Nem tudo é o que parece!

A ciência mostra que a área do cérebro responsável por enxergar algo não é a mesma usada para focar a atenção em uma imagem. Isso significa que, muitas vezes, o que os olhos captam não é, de fato, o que estamos compreendendo. Basta imaginar a experiência de observar uma obra surrealista de mestres como Salvador Dalí, Vladimir Kush ou Magritte, ou ainda as pinturas de duplo sentido de Rob Gonsalves, que desafiam a mente, brincam com a percepção e confundem o observador.

Nesse sentido, pesquisas lideradas por Masataka Watanabe, no Instituto Max Planck, investigaram essa diferença por meio de ressonâncias magnéticas. No experimento, imagens piscavam diante dos voluntários, que ora podiam ignorá-las, ora eram instruídos a observá-las atentamente. O resultado mostrou que o simples estímulo visual gerava pouca atividade cerebral, mas, quando havia foco obrigatório, a movimentação no córtex visual primário aumentava significativamente.

Assim, Watanabe destacou que o estudo evidencia como “consciência” e “atenção” são processos distintos, ainda que relacionados. Dessa forma, é possível estar olhando para algo sem estar plenamente consciente do que se vê — algo comum quando o corpo está presente, mas a mente vagueia por outros pensamentos e memórias.

Os olhos não mentem ao ver ou enxergar

Se o corpo fala, os olhos são os seus maiores porta-vozes. Neles, tudo se revela: emoções, lembranças, experiências, reflexões e sensações. Assim como as nossas digitais, o registro ocular é único e, por isso, usado até como forma de identificação em sistemas de segurança. Os olhos não mentem — eles expressam verdades que, muitas vezes, as palavras escondem.

A maneira como se olha influencia diretamente as relações pessoais e profissionais. Em uma conversa, por exemplo, manter o contato visual demonstra interesse genuíno e abertura para o diálogo. Já desviar o olhar pode sinalizar falta de disposição ou de conexão naquele momento.

A direção do olhar também revela muito: para cima e à direita, acessam-se memórias; para baixo e à esquerda, vivenciam-se emoções; para baixo e à direita, há reflexão ou escuta mais passiva.

Entender essa linguagem silenciosa amplia o autoconhecimento e fortalece a capacidade de compreender melhor o outro, tornando as interações mais empáticas, respeitosas e produtivas.

A diferença entre ver e enxergar

Observar é um ato poderoso. Duas pessoas podem olhar para a mesma cena, mas perceber detalhes completamente diferentes. É nesse contraste que nasce o verdadeiro aprendizado. Enxergar é apenas um processo físico, ligado aos olhos. Observar, por sua vez, é ver com profundidade, ultrapassando a superfície e conectando-se ao significado. Por isso, quando observamos, ativamos reflexões e compreensões mais ricas.

É natural que não estejamos em estado de observação o tempo todo, pois isso exige muita atenção e energia. A observação passiva (enxergar) é mais frequente, enquanto a ativa (ver) requer intenção consciente.

Por isso, os pensadores costumam dizer que “ver é acreditar”. No entanto, há quem veja e ainda duvide. Ao observar de fato, a percepção se torna mais clara e a crença mais sólida, pois não se trata apenas do que os olhos captam, mas do que a mente e o coração compreendem.

Como ativar o modo “observar” na sua vida?

Transformar o ato de enxergar em uma observação consciente (ver) é um exercício que requer prática e intenção. É possível? Sem dúvida. O primeiro passo é criar conexões entre o que se vê e as nossas experiências passadas, questionando: o que isso significa? O que isso tem a ver com a minha vida hoje? Ao refletir, surgem insights valiosos, que ampliam o aprendizado. 

Confira na sequência algumas formas de treinar esse olhar mais atento.

1. Desacelere a mente

Pensamentos acelerados e preocupações constantes bloqueiam a percepção do presente. Assim, ao reduzir o ritmo mental, é possível captar as nuances do que acontece ao redor. Para isso, respire fundo, olhe com calma e permita que os detalhes se revelem.

2. Registre os seus insights

Anotar percepções, ideias ou aprendizados é uma maneira eficaz de fixá-los. Nesse sentido, um caderno, um aplicativo ou um diário podem ser repositórios de reflexões para momentos de inspiração futura. Assim, sempre que você estiver diante de algo que chame a atenção do seu olhar de uma maneira especial, anote as suas impressões.

3. Esteja aberto para aprender

Por fim, tenha sempre em mente que observar é também acolher ensinamentos, independentemente de quem os oferece. Muitas vezes, as lições mais profundas vêm de gestos simples, atos de gentileza e exemplos de amor. Dessa forma, quanto mais aprimoramos a arte de observar, mais expandimos a capacidade de perceber além do que os olhos mostram — encontrando novas formas de compreender as pessoas, o mundo e a nós mesmos.

Concluindo, mais do que observar com os olhos, ver é trazer consciência e presença ao que se vê. Quando conseguimos distinguir a imagem do olhar atento, abrimos caminho para conexões mais profundas — com o outro, com o mundo e conosco. Desenvolver essa habilidade é um convite diário ao autoconhecimento e à empatia, transformando nossa percepção de tudo ao nosso redor. Afinal, o verdadeiro poder está em olhar de forma consciente, compreendendo a real diferença entre ver e enxergar.

E você, ser de luz, percebeu a diferença entre ver e enxergar? Deixe o seu comentário no espaço a seguir. Além do mais, que tal levar estas informações a todos os seus amigos, colegas de trabalho, familiares e a quem mais possa se beneficiar delas? Compartilhe este artigo nas suas redes sociais!